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Klara Castanho é retrato do Brasil que se recusa a cuidar de suas meninas

Vítima de estupro, atriz engravidou e optou por entregar criança para adoção - mas foi atacada covardemente após ter informações sigilosas vazadas

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 jul 2022, 23h13 - Publicado em 27 jun 2022, 13h04
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  • Doce, esperta e madura. Estes adjetivos saltaram em todas as conversas que tive envolvendo a jovem atriz Klara Castanho. E foram muitas. Sou jornalista de entretenimento há quase vinte anos e acompanhei a carreira dela desde quando a garota de Santo André (SP) estrelava comerciais com seu cabelinho chanel e desenvoltura rara para uma criança de 5 anos. No fim de 2019, passei mais de uma hora conversando com ela via Skype para uma reportagem de capa da VEJA publicada em janeiro de 2020. A matéria elegeu vinte jovens promissores de diversas áreas que fariam 20 anos naquele ano – o fatídico ano que se revelaria um dos piores de nossa história moderna. Klara estava entre esses jovens. Além de atriz, ela escreveu um livro que foi distribuído em escolas. Mais que o prazer de levar cultura e entretenimento à adolescentes, Klara é vocal contra o bullying e a favor da liberdade de ser quem você é. Até durante a pandemia, ela manteve sua postura e entregou alegria e entretenimento, caso do filme Confissões de uma Garota Excluída, da Netflix.

    Mas Klara é uma menina no Brasil, um país com índices vergonhosos de abuso sexual e feminicídio. Um país no qual o machismo transpira seu odor podre nos mais altos escalões do poder. No fim de semana, Klara evidenciou o lado perigoso de ser uma menina promissora neste país. Vítima de um estupro, a atriz de 21 anos engravidou. Só descobriu a gravidez quando já estava perto do parto. Optou por dar à luz a entregar a criança para adoção. A dor do abuso se somou à dor de saber que ela está ligada para sempre a outro ser humano fruto dessa violência. O que era horrível e cruel encontrou meios de ficar pior: seu caso foi exposto por funcionários do hospital – que deveriam protegê-la – e divulgado por “colunistas” sem ética ou responsabilidade por vidas alheias e pelo direito à privacidade.

    Klara é um exemplo de um país que não só se recusa a proteger suas meninas como ainda faz o que pode para acentuar sua dor. De vítima de um abuso e de uma exposição cruel, ela se tornou alvo dos que acham que tudo que acontece com uma mulher é culpa dela – e apenas dela a responsabilidade de lidar com as consequências.

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    Mas Klara não está sozinha – nem é coincidência que seu caso venha a tona poucos dias depois de outro igualmente tenebroso, de uma garota de 11 anos impedida de realizar um aborto. A dor dessas meninas ecoou como um grito para um país que precisa mudar. Que a indignação se converta em justiça. E que Klara encontre forças para manter a doçura e a maturidade que o mundo tentou lhe arrancar.

     

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