Chegar ao palco do Oscar para receber sete estatuetas, entre elas a de melhor filme, não foi um caminho assim tão fácil para Oppenheimer. Idealizado pelo diretor Christopher Nolan, a produção conta a história de J. Robert Oppenheimer, o físico conhecido como pai da bomba atômica. Nolan, que também é autor do roteiro, há 20 anos tinha os planos de contar essa trama do gênio que foi de herói a vilão dos Estados Unidos. Quando engatou, não demorou a finalizar o projeto: o roteiro e a produção foram desenvolvidos em menos de dois anos, e o filme foi rodado em enxutos 57 dias. A rapidez deixa ainda mais impressionante a façanha do diretor, que prefere câmeras analógicas e o mínimo possível de efeitos especiais em cena.
Perfeccionista, Nolan recriou com realismo o cenário do Projeto Manhattan, no deserto de Los Alamos, onde cientistas trabalharam no desenvolvimento das bombas. Em esforço hercúleo, ainda rodou tudo com câmeras Imax — ferramenta de maior resolução fotográfica do mercado, mas um trambolho que pesa mais de 100 quilos. Até a cena da detonação-teste da bomba, que poderia facilmente ter sido feita com computação gráfica, foi desenvolvida de forma artesanal: a explosão filmada num ambiente controlado usou uma mistura de gasolina, propano, magnésio e pó de alumínio para replicar o brilho e o formato do assustador cogumelo nuclear. Não é que Nolan seja totalmente avesso aos efeitos digitais — usados, sim, com parcimônia em seus filmes. Segundo prega o diretor, com razão, cenas computadorizadas são artificiais — logo, não provocam no cérebro humano a emoção que uma imagem mais próxima do real causa.
O filme é ainda uma resposta prática do cineasta a seu apego às telas grandes. Nolan é um velho crítico da Netflix e das demais plataformas de streaming — sua maior preocupação é quando estas se impõem como primeiro exibidor de lançamentos, à frente das salas de cinema, levando o espectador a ver filmes primeiro em TVs e até nas telas de celulares. Mas se há algo que a atual leva do Oscar indicou é que as telas grandes estão mais do que vivas: elas estão em sua melhor forma. Leia aqui mais sobre a fase de renovação do cinema após dificuldades dos últimos anos.