Oscar 2023, o veredicto: Confira críticas dos indicados a melhor filme
Premiação acontece no domingo e principais produções já podem ser vistas no streaming
Nesta terça-feira, 7, a Academia de Hollywood encerrou as votações que definem quem serão os vencedores do Oscar 2023. O resultado será apresentado na cerimônia de domingo, no dia 12 – e pode ser assistido no Brasil pelo canal pago TNT e pela plataforma de streaming HBO Max. Confira a seguir trechos de críticas dos filmes indicados na principal categoria feitas pela equipe de VEJA e um link para ler o texto completo.
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Onde assistir: Em cartaz nos cinemas e disponível no Prime Video, da Amazon
Poucos lugares no mundo seriam mais inadequados para se ambientar um filme de ação do que um prédio da Receita Federal. Mas no filme Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo os dois cenários cotidianos e desagradáveis se transformam em epicentros de uma batalha que envolve uma modesta família de imigrantes chineses, uma entidade do mal superpoderosa e o destino de, quem diria, toda a humanidade. Na produção independente, dirigida pelos amigos Dan Kwan e Daniel Scheinert — duo de xarás apelidados de os “Daniels” —, tudo o que parece um disparate é rapidamente vertido em originalidade. Fazendo jus ao nome do filme, Tudo em Todo o Lugar não se prende a um gênero. Humor, drama e terror se misturam entre elaboradas cenas de lutas marciais enquanto a missão de salvar o mundo só ganha sentido quando a protagonista Evelyn (Michelle Yeoh) nota que, antes, precisa salvar a própria família da ruína. Leia a crítica completa aqui
Os Banshees de Inisherin
Onde assistir: Em cartaz nos cinemas
As opções de entretenimento na ilha de Inisherin, na Costa Oeste da Irlanda, são escassas — especialmente no ano de 1923. Pádraic e Colm (Colin Farrell e Brendan Gleeson, respectivamente) cultivam o hábito de passar suas tardes até o anoitecer no pub local bebendo cerveja e falando amenidades. Pádraic se surpreende quando a rotina diária é quebrada por Colm: o amigo não quer mais gastar seu tempo jogando conversa fora. O termo “amigos”, aliás, já não lhes cabe mais: Colm é categórico ao decidir, de forma unilateral, que a amizade acabou e é irreconciliável. Filho de irlandeses, o diretor e roteirista inglês Martin McDonagh, 52 anos, usa a ruptura da amizade, uma trama simples e cômica que aos poucos ganha contornos violentos, como paralelo para o conflito histórico que marcou a história da Irlanda— uma guerra causada por extremistas e que ainda paira como névoa tóxica sobre o país. Serve também como alfinetada inteligentíssima à animosidade advinda da polarização política atual. Leia a crítica completa aqui
Elvis
Onde assistir: HBO Max
Por muito tempo, a imagem pública de Elvis Presley não honrou sua real importância na música e na cultura pop. Desde sua morte, aos 42 anos, em 1977, o Elvis que ficou foi o da grosseira caricatura em que havia se convertido no fim da vida: decadente, cafona e inchado pelo consumo de remédios e álcool. Nos últimos anos, no entanto, uma operação de resgate foi colocada em prática com o intuito de resgatar a imagem “cool” do músico. Um esforço que passa por tirar de cena o artista deprimente da fase Las Vegas e enaltecer a energia e o carisma revolucionários de sua juventude, bem como a autenticidade do amor que nutria pelas raízes negras da música americana. É esse ídolo retocado que surge na mesmerizante cinebiografia Elvis, dirigida por Baz Luhrmann. Leia a crítica completa aqui
Avatar: O Caminho da Água
Onde assistir: em cartaz nos cinemas
Mergulhador e apaixonado pelo fundo do mar, o diretor James Cameron transporta sua paixão pelo mundo aquático para as cenas do filme, sequência de Avatar (2009), em uma extravagância cinematográfica orçada em 350 milhões de dólares. A obstinação de Cameron em subir sempre mais um degrau técnico no modo de fazer cinema, numa mistura das vocações de cineasta e engenheiro (ele, aliás, não tem formação acadêmica em nenhuma das áreas), empurra os atores a evoluir junto com ele. No primeiro filme, o elenco se embrenhou por florestas no Havaí para entender como seria a vida de um Na’vi, a espécie de tez azulada de Pandora — planeta fictício que faz brilhar os olhos dos terráqueos com suas riquezas naturais. O tema do roteiro, então, era a exploração desenfreada do meio ambiente em prol do lucro. Desta vez, estrelas hollywoodianas tiveram treinamento especial para atuar num gigantesco tanque de 3 milhões de litros de água, com direito a aulas para segurar a respiração pelo maior tempo possível. Kate Winslet, que trabalhou com Cameron em Titanic, estreia no universo de Avatar com o recorde entre os atores no mergulho em apneia: a atriz bateu sete minutos sem respirar. Leia a crítica completa aqui
Os Fabelmans
Onde assistir: em cartaz nos cinemas e aluguel em plataformas VOD
Em Os Fabelmans, Steven Spielberg observa as dores e alegrias de sua infância e adolescência usando uma família fictícia como espelho da sua. Traça ainda uma comovente carta de amor ao cinema: ele é representado no longa por Sam Fabelman (Mateo Zoryan na infância e Gabriel LaBelle na juventude), um garoto que desde pequeno sonha em fazer filmes. De quebra, o diretor presta um tributo à mãe, Leah Spielberg. Pianista talentosa e dona de um espírito livre, Leah torna-se na ficção Mitzi Fabelman, interpretada com vigor e sensibilidade por Michelle Williams — papel que deve render à atriz uma merecida indicação ao Oscar. Leah morreu em 2017, e o pai de Spielberg, Arnold, em 2020. Diante do luto e do temor causado pela pandemia de Covid-19, o cineasta se perguntou: “Se eu pudesse fazer apenas mais um filme, qual seria?”. A inspiração veio da mãe. Leah manteve por anos um segredo controverso na vida amorosa — que provocaria uma ruptura drástica na visão de Spielberg sobre a família. Quando o filho ainda adolescente descobriu seu pecado, ela implorou que ele não contasse a ninguém. Décadas mais tarde, a própria mudou de ideia. “Steven, essa história daria um belo filme, não?”, sugeriu Leah. Leia a crítica completa aqui
Tár
Onde assistir: em cartaz nos cinemas
Vivida com energia mesmerizante pela australiana Cate Blanchett, a protagonista Lydia Tár não é uma pessoa de verdade, mas resume certa categoria que o mundo conhece bem: os humanos que chegam ao topo e, de tão inflados, tornam-se intimidadores, ditatoriais — ou coisas piores. É um posto, claro, quase sempre masculino. Mas calha de Tár ser a primeira mulher a mandar na orquestra que já foi regida por machos alfa como o austríaco Herbert von Karajan. Do alto de seus louros, Tár jura que ela nunca teve problemas com o machismo: “No que diz respeito ao preconceito de gênero, não tenho do que reclamar”. O filme causou desconforto em parte da crítica especializada e entre pessoas do meio da música clássica. O nível de desorientação nas críticas só ilumina a maior virtude de Tár: a de torpedear com sutileza certezas preestabelecidas. Field criou um fascinante quebra-cabeça em que muito do que acontece não é dito ou mostrado — e a trama ganha uma riquíssima segunda vida na imaginação do espectador e na internet. Fica no ar a verdadeira natureza da relação da regente e suas assistentes. Ao se ligar os pontos, contudo, os pecados de Tár surgem cristalinos e se adivinha sua via-crúcis pública. Leia a crítica completa aqui
Nada de Novo no Front
Onde assistir: na Netflix
Paul (Felix Kammerer) é um jovem alemão deslumbrado com o discurso nacionalista do Exército. Ele falsifica a assinatura dos pais e se alista para o confronto contra a França, na região que abrigou o trágico fronte ocidental da I Guerra. O entusiasmo acaba no minuto em que ele chega à trincheira e vê a morte por todos os lados. A jornada de Paul é narrada pelo clássico livro de mesmo nome do autor alemão Erich Maria Remarque, de 1928. Neste novo filme, a primeira adaptação feita pelos alemães — Hollywood fez sua versão em 1930, que ganhou o Oscar —, a glamorização da guerra, a manipulação feita pelos poderosos e a inutilidade do confronto são apresentadas de forma impactante. Mais de 100 anos depois do conflito que limou 20 milhões de vidas, a história continua assustadoramente atual. Leia a crítica completa aqui.
Top Gun: Maverick
Onde assistir: Paramount+ e no Telecine
Caso raro numa indústria que adora franquias, o arrasa-quarteirão Top Gun (1986) levou 36 anos para ganhar, enfim, uma sequência: Top Gun: Maverick, com Tom Cruise de novo no papel do piloto Pete “Maverick” Mitchell. Aos 59 anos, o ator deixa sua versão de 20 e poucos no chinelo. Se no primeiro filme as cenas eram feitas por dublê, aqui Cruise desfila habilidades físicas invejáveis e a capacidade de pilotar caças — o astro conduz de verdade as aeronaves supervelozes. Curiosamente, a demora da continuação estava diretamente ligada ao conturbado clima político dos Estados Unidos nos últimos anos. A ideia do “herói americano” foi esmorecendo conforme se acumularam casos de depressão e estresse pós-traumático entre os veteranos de guerra. Agora, o clima é outro. Maverick, o piloto rebelde, abandona o patriotismo vazio para abraçar outras causas: ainda traumatizado com a perda do melhor amigo, Nick Goose (Anthony Edwards), morto em um treinamento no primeiro filme, ele terá de reaprender habilidades sociais básicas, como a confiança, o trabalho em equipe e a importância da família. Leia a crítica completa aqui
Triângulo da Tristeza
Onde assistir: em cartaz nos cinemas e no Prime Video, da Amazon
Ambientado principalmente em um cruzeiro de luxo, o filme deu ao diretor sueco Ruben Östlund sua segunda Palma de Ouro no Festival de Cannes – ele já fora premiado em 2017 com The Square: a Arte da Discórdia. Assim como naquele drama sobre os absurdos do mercado de arte, Östlund se vale aqui da ironia cortante para examinar outro universo: o dos super-ricos que escancaram seus excessos e sua falta de conexão com o mundo real. Triângulo da Tristeza reforça com louvor uma leva de filmes e séries que observam de perto a classe AA+, como os afiados The White Lotus, O Menu e Succession. Leia a crítica completa aqui
Entre Mulheres
Onde assistir: em cartaz nos cinemas
Indicado a filme do ano e roteiro adaptado no Oscar, o impactante Entre Mulheres reforça a leva de longas que introduzem complexidade incômoda nas tramas sobre abuso na esteira do #MeToo. Ao contrário de obras como Tár ou Ela Disse, que usam as relações profissionais para falar sobre o tema, aqui a fonte da opressão não é uma pessoa em posição de poder, mas o fundamentalismo religioso. Filosófico e com tom reflexivo, o filme se passa quase todo dentro de um estábulo, onde diálogos de fundo teológico deixam entrever o papel da defesa religiosa da submissão feminina nos abusos. Leia a crítica completa aqui