Preguiçoso, ‘Aquaman 2’ encerra saga da DC com clima de aviso prévio
Filme é o último da fracassada empreitada do estúdio do Superman nos cinemas — time de heróis que passará, em 2025, por reformulação radical
Em 2013, o diretor Zack Snyder e o escultural Henry Cavill trouxeram O Homem de Aço ao mundo e deram o pontapé em um universo cinematográfico heroico idealizado para rivalizar com o fenômeno Marvel. A aposta deu ruim: desse mundo saíram fracassos de crítica como Liga da Justiça (2017) e alguns sucessos esparsos, feito Aquaman (2018), dono de mais de 1 bilhão de dólares em bilheteria e uma reputação acima da média, estabelecida pelas afetações do diretor James Wan e a dose reforçada de fantasia. Cinco anos depois, entretanto, as qualidades de outrora foram por água abaixo, deixando de resto o estranho limbo de Aquaman 2: O Reino Perdido.
Último filme de seu universo expandido, Aquaman 2 é, como o título sugere, perdido. Na história desengonçada, Arthur Curry (Jason Momoa) tem que lidar com as responsabilidades do governo de Atlântida ao mesmo tempo em que cria seu recém-nascido ao lado da esposa Mera (Amber Heard) e bebe cervejas ao som de dad rock com o pai, Tom (Temuera Morrison). Frágil, o equilíbrio é logo perturbado pelo vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), que passa a ser comandado por um tridente possuído que almeja destruir o ecossistema global e o reino do protagonista. Para combatê-lo, o herói precisa, então, recrutar a ajuda do irmão desafeto, Orm (Patrick Wilson), a quem derrotou no primeiro filme.
Sobre tal estrutura convencional, Wan, que retorna à direção, usufrui de seus dotes do terror e de seu estilo frenético de montagem para tentar infundir a história com a energia que o texto carece, debruçando-se sobre a construção fantástica da sociedade submarina e sequências de ação explosivas. Sua ferramenta, porém, o sabota. Plástico, o filme acena a fantasias contemporâneas como Valerian e a Cidade dos Mil Planetas e até ao charme rudimentar dos efeitos de Pequenos Espiões, mas peca pelo excesso e repetição, que atacam as retinas do espectador e turvam os acontecimentos do enredo. O resultado é uma história acelerada rumo a lugar nenhum, que nem sequer aproveita a jornada.
As duas horas do filme, logo, parecem ocupar o dobro do tempo. Isso porque, para cada boa sacada (Martin Short como uma espécie de Jabba the Hutt marinho), dezenas de piadas constrangedoras são entregues com a energia de uma peça escolar por Jason Momoa, cujo timing cômico parece ter lhe desertado — não que os diálogos constrangedores escritos por David Leslie Johnson-McGoldrick ajudem.
Daqui em diante, James Gunn e o produtor Peter Safran irão refazer o universo DC no cinema do zero, a partir de Superman: Legacy em 2025. Para quem assiste Aquaman 2, isso é óbvio: tudo sobre o filme evidencia um trabalho que é mais aviso prévio que arte: da participação mínima de Nicole Kidman até a mensagem bem intencionada, mas simplória, sobre aquecimento global. Nesse reino, quem impera é a lei do mínimo esforço.
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