Quem é William Gibson, o visionário autor da série ‘Periféricos’
O escritor canadense ficou conhecido por cunhar o termo cyberpunk e imaginar um futuro no qual a tecnologia não melhorou a vida de ninguém
Há quase quarenta anos, uma história sobre implantes neurais que simulariam na mente humana um mundo virtual realista soaria risível e, claro, absurdo. Em pleno 2022, ainda é difícil, mas não impossível, vislumbrar a trama pensada pelo autor William Gibson para o livro Neuromancer, de 1984, sua obra-prima. O escritor canadense de 74 anos entrou para o hall de nomes raros e inventivos da literatura que usa a ficção científica para ver além — enquanto aciona alertas gritantes sobre os perigos da evolução tecnológica. Como diz a ironia dos dias de hoje, “isso é muito Black Mirror“, exceto pelo detalhe: Black Mirror é que é muito William Gibson. Nos últimos meses, o autor viu seu nome ganhar novo destaque com o lançamento da série Periféricos (disponível na Amazon Prime Video), estrelada pela atriz Chloë Grace Moretz.
A série é baseada no livro homônimo de Gibson e é fiel à premissa: os irmãos Flynne (Chloë) e Burton (Jack Reynor) ganham dinheiro jogando games de realidade virtual, e, eventualmente, são convidados a testar uma nova simulação hiper-realista, ambientada em Londres no futuro. A trama logo se desenvolve para uma aventura de ação e mistério. Considerada inadaptável, a obra de Gibson costuma servir de inspiração. Caso de Matrix (1999) que bebe diretamente de Neuromancer. Nele, um hacker é banido da Matrix, um ambiente virtual onde todas as relações sociais acontecem, após tentar roubar o patrão. Foi nesta obra que o termo cyberpunk foi popularizado, usado para designar as histórias futurísticas anárquicas, onde a tecnologia não melhorou a vida de ninguém, pelo contrário, só piorou.
Para além da influência na cultura pop e na literatura, Gibson virou uma espécie de profeta dos tempos modernos. Seus textos, por exemplo, anteciparam como seria a internet, os reality shows, a onipresença das câmeras de segurança, e também a importância que os videogames ganhariam na vida das pessoas e também no mercado. Vale lembrar, por exemplo, que o mercado de games movimenta hoje mais dinheiro do que Hollywood. Um visionário que, nos dias de hoje, ironicamente, foge da tecnologia.