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Rosamund Pike se delicia com elite satírica de ‘Saltburn’: leia entrevista

Atriz indicada ao Oscar concorre ao Globo de Ouro por papel como madame desbocada em 'Saltburn', thriller erótico repleto de provocações

Por Thiago Gelli Atualizado em 9 Maio 2024, 18h19 - Publicado em 22 dez 2023, 14h55

Aos 44 anos, Rosamund Pike disputa novamente uma vaga nas indicações ao Oscar — 8 anos após concorrer pelo emblemático Garota Exemplar. O veículo que promete levá-la até lá agora é mais cômico, mas não menos perverso. Segundo longa da cineasta Emerald Fennell, de Bela Vingança, Saltburn acaba de chegar ao catálogo da Amazon Prime Video ao redor do globo, contando a história do prodígio Oliver (Barry Keoghan), bolsista em Oxford — onde Pike estudou literatura. Deslocado, ele penetra o mundo dos ricos ao fazer amizade com Felix (Jacob Elordi), galã do campus que o convida para passar o verão no palácio que dá nome ao longa. Lá, ele conhece ricaços excêntricos e se torna progressivamente calculista, trilhando um caminho entre a adoração (mental e física) e o desprezo à casta. 

 

Polêmico, o filme lida com a mobilidade social na aristocracia britânica sem papas na língua ou na lente, criticando tanto os lordes quanto aspirantes — tudo ao som do melhor das rádios de 2007, época da história. Pike é Elspeth, ex-modelo, mãe de Felix e dondoca que esconde as partes vis de sua posição social com belos vestidos, humor e seu “pavor à feiura”. Com sua entrega seca e sagaz, ela rouba a cena em diversos momentos — tarefa difícil contra o voraz Keoghan —, e já conquistou uma indicação ao Globo de Ouro pelo papel. Em conversa a VEJA, a atriz analisa suas anti-heroínas características, sua relação com Fennel, as provocações do roteiro e até fetiches por pé:  

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Sua personagem em Saltburn é responsável por alguns dos momentos mais satíricos do texto. Por que acha que figuras como ela e as protagonistas de Garota Exemplar e Eu Me Importo se tornam queridas pelo público? No tempo em que vivemos, todo mundo opta pelo caminho seguro e cuidadoso, sempre temendo julgamento por dizer algo que não seja vanilla, careta. É por isso que busco personagens desbocadas e sem filtro. Acho que as pessoas precisam estar ao redor de gente assim — é tremendamente refrescante, mesmo que seja apenas para ouvi-las e se arrepiar. No caso de Elspeth, ela é completamente livre. Não existem câmeras, apenas a bolha bucólica de seu palácio inglês. Ela não precisa sair de casa mais que uma vez por semana e pode dizer tudo que pensa — outro fator que a faz divertida. Acho a autoimportância uma das qualidades mais engraçadas da vida, e é algo muito comum a atores. Sempre rio de colegas que insistem, repetem e continuam a encontrar jeitos de afirmar que suas atuações são maravilhosas.

Seus diálogos de madame com Carey Mulligan e Barry Keoghan surpreendem como alívio cômico da história. Como chegou à entonação da personagem? Quando li o roteiro, a voz de Elspeth foi imediata. Sempre que leio livros ou roteiros, os personagens simplesmente ganham vozes em minha cabeça. Outras pessoas me disseram que leram o roteiro e não tinham percebido que certos momentos eram propositalmente engraçados, mas essa é a graça do que Emerald escreve. Graças a meus estudos em Oxford, também pude estar próxima a pessoas assim e pude me inspirar em conhecidas. O ponto-chave foi a cadência de ingleses que, quando dizem elogios, estão, na verdade, te xingando.

O filme causou muito debate quando foi lançado nos Estados Unidos: há quem o achasse muito perturbado, muito leve ou muito problemático devido aos temas de classe e sexo. Nos bastidores, esperava que o filme fosse tão divisivo? Não acho que seja possível saber algo sobre a recepção quando está se fazendo um filme. Digo, existe uma parte sua que pensa nisso, mas a experiência para atores é mais imersiva. Eu sabia da trilha que Emerald planejava usar e sabia que isso iria agregar uma qualidade pop ao filme — que ele seria sagaz, mas embrulhado em sensibilidades da música popular libidinosa e bagunçada. Também tinha certeza que o longa seria sensual, porque Emerald acredita que a maioria do que sustenta a vida é, no fim, sobre sexo — seja o evitar ou o desejar, o ter ou ansiar por ele. Nesse sentido, esperava que o trabalho fosse provocar. Nosso brilhante diretor de fotografia, Linus Sandgren, me mostrava fotos dos bastidores e eu me espantava. Uma vez, achei que ele tivesse capturado o… de Jacob Elordi, mas era apenas seu ombro. Os corpos são filmados de maneira tão erótica que você imagina enxergar algo proibido — mesmo se for só uma clavícula. Tínhamos um livro no set do fotógrafo Elmer Batters, que tinha fetiche por pés femininos. Ele se sentiu realizado quando seu livro foi banido, porque provou para ele que outras pessoas consideravam seus registros sexualizados, e por isso queriam reprimi-los. Acho esse caso semelhante às críticas que o filme tem recebido. Há quem queira criticar o que causa desconforto — especialmente homens brancos e velhos.  

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Parte do debate acalorado focou na vida de Emerald como herdeira britânica e ex-aluna de Oxford, questionamento que se estendeu até você. Como se sente quanto à inspeção das vidas pessoais dos envolvidos nesse ciclo de imprensa? Estava falando disso agora pouco. Por conta da greve dos atores, Emerald teve que se tornar o rosto do filme na campanha publicitária americana, e fiquei abismada com a dominância dessa ótica atravessada pela criação e status de Emerald. Nenhum diretor é questionado dessa mesma maneira — não estão fazendo isso com David Fincher, Alexander Payne e Bradley Cooper. É ridículo. Não acho que Emerald faria uma história tão específica quanto essa caso ela se sentisse pertencente ao universo aristocrata. Querem impor esse rótulo a ela, mas ela compreende tanto o protagonista, Oliver, quanto Elspeth. Não estamos fazendo Downtown Abbey, não estamos vangloriando as elites inglesas. É uma história nefasta, complicada, fascinante, glamourosa, penosa e doentia. 

O filme traz referências a O Talentoso Sr. Ripley e Retorno a Brideshead, entre outros clássicos da literatura inglesa. Essas obras fizeram parte do preparo, ou a proposta era iconoclasta? Quando comecei a ler o roteiro, pensei que ela estivesse atualizando Retorno a Brideshead, de Evelyn Waugh— até chegar a reviravolta. Amo as referências que ela utiliza e subverte. Sempre adorei histórias sobre um forasteiro traído por um grupo dominante, é um tema muito rico, que, quando você menos espera, Emerald vira de cabeça para baixo. Mesmo assim, ela não esperava que o elenco possuísse alguma bagagem. Ela deve ter imaginado que eu a teria por conta de Oxford, mas é uma diretora incrivelmente generosa que assegura que todos compreendam o que têm que compreender. É o que faz trabalhar com ela tão prazeroso.

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