‘The Flash’: super-herói vivido por astro cancelado vinga a DC
Filme se esbalda sem moderação — e com sagacidade — nas diversas possibilidades narrativas oferecidas pelo chamado multiverso
Num gibi de 1961, Flash se via em uma situação incomum: a pedido de uma amiga, ele topava entreter crianças num evento de caridade após o mágico contratado dar o cano. Ao exibir suas habilidades, Barry Allen, identidade secreta do herói, acaba exagerando em um truque no qual seu corpo vibrava em alta velocidade — e a brincadeira o transporta para outra realidade. Por lá, ele descobre a existência de um segundo Flash, um aposentado chamado Jay Garrick. A trama da clássica história em quadrinhos O Flash de Dois Mundos, da DC Comics, marcou o início de uma longa e prolífica relação entre os super-heróis e os postulados da física quântica, que sugerem a existência de realidades paralelas — ideia hoje explorada à exaustão pelo cinema, especialmente pela concorrente da DC, a poderosa Marvel. Deixada para trás pelo estúdio de estrelas como Homem-Aranha e Doutor Estranho, a DC agora retoma seu lugar de direito: The Flash (Estados Unidos, 2023), que chega aos cinemas na quinta-feira 15, se esbalda sem moderação — e com sagacidade — nas diversas possibilidades narrativas oferecidas pelo chamado multiverso.
Boneco DC Flash – Figura Articulada
No decorrer da história, Allen (Ezra Miller) descobre a habilidade de correr mais rápido que a luz e, assim, viajar no tempo. Ele volta ao passado para impedir o assassinato da mãe, trauma que ainda lhe custou o convívio com o pai, preso injustamente pelo crime. Mas, na tentativa de salvar a família, Flash adentra uma linha temporal na qual outros personagens foram afetados, notadamente seus colegas da Liga da Justiça. O que para ele é um problemão, para o público do cinema é um deleite. The Flash viaja pelo amplo acervo da Warner Bros., trazendo para as telas desde cenas antigas com Christopher Reeve (1952-2004) no traje do Superman até Michael Keaton em uma participação de luxo de volta ao uniforme do Batman — herói vivido por ele em 1989 e 1992 nos filmes dirigidos por Tim Burton. “Batman e Batman: o Retorno marcaram gerações, a minha inclusive. Eram filmes muito criativos e artísticos, algo que me inspirou ao fazer The Flash”, afirmou a VEJA o diretor do longa, o argentino Andy Muschietti.
Ágil, engraçado e com um bom roteiro, The Flash é um chacoalhão bem-vindo ao desgastado gênero. Repetitivos, vários dos longas mais recentes da Marvel denotaram cansaço criativo — e amargaram bilheterias inexpressivas. O caso da DC era mais grave. Os mandachuvas Zack Snyder e Joss Whedon não vingaram, assim como boa parte dos filmes feitos por eles. A direção criativa do estúdio, passou, recentemente, para as mãos de James Gunn, recém-saído da Marvel e coberto de glórias pelo sucesso da trilogia dos Guardiões da Galáxia. Enquanto colocava ordem na casa, a DC ainda lidava com uma série de notícias desagradáveis envolvendo Ezra Miller, astro de The Flash. O americano de 30 anos acumulou acusações de roubo e agressões, chegando a ser detido em 2022 por uma briga de bar. O cancelamento do rapaz nas redes sociais e a ficha policial ameaçaram o engavetamento do filme. Mas, contrariando os maus presságios, The Flash deu certo — e muito.
The Flash: The Official Visual Companion
Miller entrega entretenimento da melhor cepa — e em dose dupla. Ao enveredar por uma viagem ao passado, seu personagem topa consigo mesmo mais jovem e debochado, numa interação cômica saborosa. Quando uma ameaça à Terra surge, os dois Flash precisam achar Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Ciborgue para salvar o planeta — missão que se revela complexa. “É um filme com coração, ao contrário de vários outros filmes de heróis por aí. O mundo pode estar pegando fogo, mas o que importa é a relação de um garoto e sua mãe”, diz o diretor. Assim, num piscar de olhos, o jovem ligeirinho deixa outros heróis a ver poeira.
Publicado em VEJA de 14 de Junho de 2023, edição nº 2845
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