Eu poderia citar inúmeros exemplos internacionais de milionários que começaram a trabalhar cedo, ou de adolescentes que já estão milionários, para complementar o post anterior. Mas prefiro um exemplo nacional da minha área, ainda que ela não enriqueça tanta gente (embora ficar milionário com um grande romance continue nos meus planos).
Aos 13 anos, Nelson Rodrigues começou a trabalhar na editoria de polícia de “A Manhã”, jornal de seu pai, Mário Rodrigues, sendo obrigado a trocar as calças curtas pelas compridas. Ganhava 30 mil réis por mês e, aos quinze, deixou de frequentar a escola para se dedicar integralmente ao trabalho. Quase 50 anos depois da estreia como repórter, declarou ao jornal Última Hora que “todo o ficcionista deveria passar pela reportagem policial.”
Hoje, graças à Lei n. 8.069/1990, ao ECA e à força do discurso “politicamente correto” disseminado pelas esquerdas, Mário Rodrigues seria senão multado como o empresário Marcio Silva Almeida, no mínimo denunciado por “explorar” o trabalho de um menor de idade. Nelson teria perdido, assim, boa parte daquilo que nenhuma escola poderia jamais lhe ensinar: as experiências práticas e histórias reais que lhe deram bagagem como jornalista e o abasteceram de matéria-prima como dramaturgo e escritor.
No fim das contas, o Brasil também teria perdido até certo ponto com isso, assim como vem perdendo a cada vez que um adolescente como Wesley Lopes é impedido de trabalhar, ainda que nas horas vagas e com o aval dos pais.
Como dizia Nelson: “O brasileiro é um feriado”. E o menor de idade que quer deixar de sê-lo – a menos que vá atuar em novela, é claro – agora já não pode mais.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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