País de estupradores, uma ova! IPEA admite que… eu estava certo! Ai, que chato! Maioria discorda de ataques às mulheres! Só falta o instituto, os jornais, a TV e os ativistas admitirem o proselitismo ideológico também
Eu fui estuprado, quer dizer, atacado por um bando de ativistas bocós nos últimos dias em função dos meus artigos que desmascaravam a pesquisa fajuta do IPEA. Eles queriam porque queriam que a população brasileira fosse tão ruim que acreditasse, como concluía o relatório, que “A mulher merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar.”
A mídia quase inteira comprou esse embuste, sem a menor crítica metodológica. A notícia de que a maioria dos brasileiros culpa as mulheres pelo crime de estupro chegou à rede britânica BBC, ao jornal americano Washington Post, ao El País da Espanha e até ao Metroxpress (jornal distribuído gratuitamente em estações de metrô e trem) da Dinamarca! Como o desmentido geralmente repercute menos que a propaganda inicial, o mal já está feito dentro e fora do país. Estamos famosos no mundo inteiro pela crueldade machista.
Veja como se deu o efeito dominó da mentira e nunca mais embarque em histerias assim:
– O IPEA chegou a conclusões absurdas totalmente divorciadas da amostra colhida em maio e junho de 2013 (e, coincidentemente, trazida a público durante o escândalo da Petrobras);
– Os ativistas dos grandes jornais fizeram um escarcéu em cima disso, com direito a manchetes de “Brasil medieval”;
– Os especialistas de plantão, como a antropóloga Mirian Goldenberg, produziram sociologia barata (“A mulher é culpada de ser mulher”) em torno de duas questões sem-vergonha que nada tinham a ver com as demais respostas das entrevistas;
– A ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, lamentou o resultado e disse que é preciso “fazer muito mais”, sem sequer explicar por que um instituto de pesquisas ECONÔMICAS estava “fazendo muito mais” do que lhe cabe e entrando na área dela;
– A presidente Dilma Rousseff tirou uma casquinha da pesquisa no Twitter com a frase “Tolerância zero à violência contra a mulher” seguida da hashtag #Respeito e apoiou a criadora da campanha “Eu não mereço ser estuprada”, Nana Queiroz, uma jornalista companheira que ainda foi ao programa do Datena pedir urgência na aprovação do Marco Civil da Internet em função das supostas ameaças virtuais que teria sofrido por protestar seminua;
– O programa Fantástico deixou a reportagem de lado e fez propaganda da campanha de Nana e das conclusões forçadas do diretor do IPEA, Daniel Cerqueira, de que “A sociedade brasileira está impregnada pela cultura machista”;
– O autor Manoel Carlos colocou os personagens da novela “Em família” para julgar moralmente “mais da metade dos brasileiros”, dizendo que aquilo era “coisa dos primórdios da humanidade” e pior: “de reacionário”!, no que fez jus à tradição “Dias Gomes” de criadores comunistas a serviço da Rede Globo, já admitida por Boninho em entrevista na TV.
– O movimento de caça-tarados do metrô, que já fazia de alguns casos esporádicos de “encochadores” uma aparente epidemia nacional, ganhou força com as conclusões fajutas do IPEA, potencializando ainda mais as falsas evidências do comportamento dos brasileiros.
– O militante Leonardo Sakamoto… (Pausa para Sakamoto)… bem, vocês sabem, sakamoteou a coisa toda.
Demonstrei tudo isso incansavelmente neste blog, inclusive o aparelhamento do Instituto pelo PT; criei nas redes sociais a campanha contrária “Eu não mereço ser enganada pelo IPEA”; apontei os responsáveis pela criminalidade e as formas de combatê-la; e até mostrei o que é uma verdadeira cultura do estupro.
Os blogueiros e portais decentes felizmente estavam citando meus artigos por aí, sendo que a revista Exame chegou mesmo a questionar o Instituto com base neles. Outros fingiam, com dias de atraso, que haviam descoberto sozinhos as incongruências da coisa.
Mas agora está lá, em todos eles, inclusive naqueles que nunca disseram uma palavra contra: IPEA admite erro em pesquisa e diz que 26%, não 65%, apoiam ataques a mulheres.
Margem de erro da questão: 39% – ou mais.
Na verdade, 70% dos entrevistados DISCORDARAM de que “as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Provavelmente, esses 70% entenderam o ataque como alguma forma (sexual ou não) de agressão que nenhuma mulher de fato “merece”. Entre os 26% que concordaram, ainda restaria saber quantos podem ter entendido os outros sentidos dos verbos atacar e merecer, sobre os quais já escrevi.
Esses números, ainda que a questão seja vaga, condizem muito mais com as respostas nada “machistas” que os ativistas ignoravam solenemente:
a) 91,4% concordam que o homem que bate na esposa deve ir para a cadeia;
b) 82,1% discordam que a mulher que apanha em casa deve ficar quieta para não prejudicar os filhos;
c) 68,1% reconhecem que é uma violência falar mentiras sobre uma mulher para os outros;
d) 89,2% discordam que o homem pode xingar ou gritar com a própria esposa.
Oh, como somos cruéis com as mulheres, não é mesmo? E os pesquisadores Rafael Guerreiro Osorio e Natália Fontoura, mui apegados às próprias ideias, ainda têm a cara de pau de afirmar em nota:
Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos.
Como um erro tão grotesco pode manter válida uma conclusão que, sem ele, já era mais grotesca ainda? Rafael pediu sua exoneração assim que o erro foi detectado, mas parece que ainda quis deixar esta última marca de cinismo em sua passagem pelo Instituto. O agora ex-diretor de Estudos e Políticas Sociais se agarra pateticamente ao resultado de outra questão tão mal formulada quanto aquela, e a partir da qual não se pode fazer inferência moral sobre a população, para preservar a ideologia barata do relatório.
É óbvio que uma mulher saber se comportar, no sentido de por exemplo não aceitar bebidas de estranhos, o que evita o “boa noite, cinderela”, reduz a possibilidade de vitimização. Ninguém é malvado nem culpa a mulher pelo crime por pensar nesse tipo de cuidado ao supor que sim: haveria a diminuição do índice de estupro. Qualquer professor de Direito Penal qualificado sabe disso, como também já mostrei no meu “Relatório Moura Brasil“.
Preconceito, então, só os do IPEA, que admite o erro numérico, mas não o ideológico – sinal evidente de que pouco importa as respostas dos entrevistados, a conclusão é a mesma. A resposta da assessoria do Instituto à revista Exame sobre as minhas críticas não me deixa mentir: “Os resultados da pesquisa devem ser analisados na sua totalidade, e não pergunta a pergunta”. Dá para acreditar? Dá sim.
Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres.
Ou seja: à população brasileira, que eles xingaram de machistas e apoiadores do estupro, não pedem desculpa diretamente, mas aos ativistas e idiotas úteis que se deixaram enganar por suas mentiras prestam solidariedade.
O IPEA, definitivamente, precisa ser investigado. A exoneração de Rafael é pouco, como escreveu Reinaldo Azevedo:
Erro assim não é trivial. Qual foi a sua gênese? Como foi produzido? Não há revisão? Não se faz uma análise para saber se os dados são compatíveis? Não há mecanismos de controle — uma espécie de contraprova — para saber se os pesquisadores não manipulam dados? As outras pesquisas feitas pelo IPEA são conduzidas com o mesmo cuidado?
Não são, não, segundo os especialistas que também citei nos meus artigos.
Mas isto tampouco interessa aos ativistas. Nana Queiroz, que estava em reunião com a Polícia Federal(!!!) na hora em que foi avisada do erro pelo Estadão, declarou:
“Mesmo assim, 26% ainda é um número muito alto. A nossa campanha continua.”
Claro que continua.
Não era pelos 20 centavos.
Não era pelos 65%.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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Artigos anteriores:
– A verdadeira cultura do estupro
– O Relatório Moura Brasil sobre a pesquisa fajuta do IPEA (e a cabeça dos ativistas). E não é que os especialistas de verdade concordam comigo? Ai, que chato! Manchetes comprovam: verbo “atacar” não é só estuprar! Jura?…
– O país da intervenção – militar, jornalística, acadêmica, governamental, cirúrgica… É muita gente intervindo antes de tentar compreender (ou a fim de avacalhar mesmo)
– Reportagem, não! Fantástico faz propaganda da campanha “Eu não mereço ser estuprada” e da pesquisa do IPEA
– Estupro? Machismo? Culpa? Levante a plaquinha: “Eu não mereço ser enganada pelo IPEA!” E mais: maioria defende pena de morte ou prisão perpétua a estupradores!
– A culpa do estupro não é da mulher, mas a da confusão é da pesquisa do IPEA! Essa, sim, merece ser “atacada”!