Além do ex-assessor do PT Kennedy Alencar, a OAB e Ricardo Noblat defenderam José Eduardo Cardozo ignorando que, em encontro secreto com advogados de empreiteiras enroladas com a Operação Lava Jato, o “ministro da Justiça” desaconselhou a delação premiada para os executivos presos, claramente a fim de evitar que eles entregassem Lula e Dilma.
Os petistas da OAB transformaram a tentativa de sabotagem das investigações em “obrigação de respeitar uma das prerrogativas do advogado”: a “de ser recebido por autoridades de quaisquer dos poderes para tratar de assuntos relativos a defesa do interesse de seus clientes”.
Noblat afirmou, nessa linha, que “um ministro de Estado é um servidor público” e “a porta do seu gabinete deve estar sempre aberta para receber quem lhe pedir audiência”. De quebra, chamou de leigo quem vê “comportamento suspeito” de Cardozo e acusou Joaquim Barbosa de “oportunismo político” por exigir sua demissão, como se a VEJA não tivesse revelado ainda que Cardozo falou em “costura de um acordo para que todos se safem”. As omissões providenciais do sermão no Globo, que termina com um bisonho “Sossegue!”, indicam apenas que Noblat nunca digeriu a representação de Barbosa contra ele por injúria, difamação e preconceito racial.
Já o próprio Cardozo disse à Folha que condenar o fato de ele ter-se reunido com advogados de empreiteiras do petrolão é coisa da ditadura, como se fosse tolerável na democracia um ministro da Justiça tentar boicotar a Justiça. Felizmente, seus encontros secretos levaram o juiz Sérgio Moro a decretar nova ordem de prisão preventiva contra o executivo da UTC Ricardo Pessoa e três da Camargo Corrêa: Eduardo Hermelino Leite, Dalton Avancini e João Auler.
O Jornal Nacional, bisonha e bovinamente, noticiou apenas a negação da liberdade dos quatro empreiteiros sem apontar os motivos nem citar o nome de Cardozo:
“O juiz Moro considerou que houve novos indícios. Eles foram incluídos no processo. E observou também que há provas de que as empresas continuaram a pagar propina mesmo depois do início da operação”, limitou-se a dizer William Bonner.
Os “novos indícios” são as tentativas das empreiteiras de interferir nas investigações por intermédio de políticos. O despacho de Moro aponta isso e, embora nem mire em outros alvos por ora, ainda destrói as teses governistas de Cardozo, Kennedy, OAB e Noblat:
1) “Existe o campo próprio da Justiça e o campo próprio da política. Devem ser como óleo e água e jamais se misturarem. A prisão cautelar dos dirigentes das empreiteiras deve ser discutida, nos autos, perante as Cortes de Justiça.”
2) “Intolerável que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas. Mais estranho ainda é que participem desse encontros, a fiar-se nas notícias, políticos e advogados sem procuração nos autos das ações penais.”
3) “Não socorre os acusados e as empreiteiras o fato da autoridade política em questão ser o ministro da Justiça. Apesar de a Polícia Federal, órgão responsável pela investigação, estar vinculada ao ministério, o ministro da Justiça não é o responsável pelas ações de investigações.”
4) Joaquim Barbosa “bem definiu a questão ao dizer que, se você é advogado em um processo, deve recorrer ao juiz, nunca a políticos”.
5) “A mera tentativa por parte dos acusados e das empreiteiras de obter interferência política em seu favor no processo judicial já é reprovável, assim como foram as aludidas tentativas de cooptação de testemunhas, indicando mais uma vez a necessidade da preventiva para garantir a instrução e a aplicação da lei penal e preservar a integridade da Justiça contra a interferência do poder econômico.”
Perfeito. Os empreiteiros têm de ser mantidos presos. Cardozo tem de ser demitido. OAB, Kennedy e Noblat têm de ser expostos para que o público saiba quem são.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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