Eram cerca de 18h40 do dia 7 de abril de 2018 quando o ex-presidente Lula passou a ser o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Conduzido pela Polícia Federal para cumprir pena de mais de doze anos de prisão pelos crimes desvendados pela Operação Lava Jato, o petista vai responder pela condenação — outras ações penais estão em curso — como qualquer um dos milhões de brasileiros que ele afirmou no teatral “showmissa” ter colocado na universidade, tirado da miséria e que passaram a se deslocar de avião na década passada. Pelo céu, aliás, Lula foi transferido de São Paulo para Curitiba num helicóptero, algo que nenhum dos brasileiros que ele citou jamais teria tamanho translado desde o chão de fábrica. Os “engravatados” que o petista criticou, sim, os donos das maiores empreiteiras do país, com quem ele e seu PT se locupletaram, voltaram a ser alvos da bravata do “nós contra eles”, tal qual — sempre — a “culpada” imprensa.
Sobre a prisão do mais importante mandatário da Nação na história democrática por crime comum, os livros lembrarão. E não se falará nas páginas do futuro de um crime político, mas sim por corrupção e lavagem de dinheiro — e vai além de uma foto, que, aliás, é bastante educativa.
A prisão do petista deveria ser sistólica. Se o ex-metalúrgico que criou um dos maiores partidos do Brasil, eleito e reeleito com índices de aprovação jamais vistos, que levou ao poder quem quis e foi capaz de governar com políticos que deveriam estar na cela também está preso… Amanhã, o brasileiro deveria pensar duas vezes antes de furar a fila do banco e da farmácia, antes de tentar driblar o Imposto de Renda ou enganar o vizinho. O Brasil mudou? Seria otimista demais pensar que o país acordou e cresceu. Mas a prisão do homem que diz “não ser mais um ser humano, mas uma ideia” deixa, de fato, uma ideia: a de que lei e ordem aqui na república da jabuticaba, ainda que com atraso de 26 horas até a sua prisão, finalmente prevaleceram. Isso, talvez, seja um alento.
Será uma noite dura para Lula. Mas também será para Renan, Jucá, Sarney, Eunício, Aécio e quem mais sempre esteve acostumado com a impunidade. Quem sabe a “ideia” tenha mudado — e para sempre.