Um projeto de monitoramento de um fragmento da Mata Atlântica no sul da Bahia, na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Estação Veracel, identificou cinco espécies de animais que ainda não haviam sido catalogadas naquela área. São eles: irara (Eira Barbara), gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus), mão pelada (Procyon cancrivorus), tapiti (Sylvilagus brasilienses) e ouriço-caixeiro (Coendou cf. insidiosus). Além das aparições até então inéditas, ao todo nove espécies ameaçadas na Bahia foram registradas pelas câmeras: a anta, o macaco-prego-de-crista, o guigó, o gato-do-mato-pequeno, a queixada, o gato-maracajá, a jaguatirica, a onça-parda e o gato-mourisco, sendo que os cinco primeiros fazem parte da lista vermelha das espécies ameaçadas mundialmente, segundo a lista da IUCN — International Union for Conservation of Nature.
Até 2017, as campanhas de monitoramento eram feitas com oito câmeras e ao longo de três semanas. Naquele ano, o método resultou no primeiro registro da onça-pintada na região em 20 anos. Com a presença do felino, que é um predador de topo de cadeia, na região, pesquisadores se mobilizaram para fazer uma análise mais aprofundada da área. No ano passado, em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), do ICMBio, foram usadas 82 câmeras ao longo de 90 dias.
De acordo com a bióloga e coordenadora da Estação Veracel, Virgínia Camargos, saber se a onça é moradora daquele fragmento da floresta ou se apenas usa o corredor como passagem é essencial para entender a saúde do ecossistema. “Se a onça só passa por ali, é sinal que ela está percorrendo uma área muito extensa e que os ambientes não estão favoráveis a ela. Por ser um animal ameaçado de extinção, a tendência é que ela desapareça dali. Mas se for moradora daquele ambiente, isso quer dizer que a cadeia alimentar é saudável e a chance de ela se manter com outros indivíduos é maior”, explicou.
Segundo Virgínia, animais de grande porte comprovam o equilíbrio da floresta. Para ela, a onça no chão e a harpia, uma das maiores aves de rapina do mundo, na copa das árvores são sinônimos de um ecossistema saudável. “Conseguimos registrar a onça em 2017 e a harpia, em 2018”, disse a bióloga. Com informações que comprovem qual é a população da floresta, será possível prever a viabilidade dela ao longo do tempo com estimativas e modelagens. Será possível criar medidas de proteção adequadas, entender se serão suficientes e se vão trazer resultados positivos para a floresta.
Além dos benefícios diretos e a curto prazo para o território, outra vantagem com a divulgação dos novos dados é o fomento à pesquisa científica na região. As informações atraíram pesquisadores do Brasil e de fora do país que querem estudar outras variáveis no mesmo local. O tamanho ideal de um fragmento de floresta e o ponto necessário para manter a diversidade genética são algumas das questões que podem ser respondidas.