Apollo 13
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Em abril de 1970, menos de um ano depois da chegada do homem à Lua, a missão Apollo 13 foi lançada ainda em plena febre popular pela corrida espacial – mas gerou um tipo imprevisto de excitação: no meio da viagem, com a explosão de um tanque de oxigênio na sua cápsula (na verdade, uma precária lata de sardinha), os três astronautas a bordo poderiam a) morrer por falta de oxigênio b) morrer envenenados por dióxido de carbono c) morrer congelados. Reentrar na atmosfera terrestre sem serem incinerados ou lançados para sempre ao vácuo equivalia a acertar um míssil pelo buraco de uma agulha. O diretor Ron Howard, sempre calmo e elegante, faz um filme que pode ser descrito como convencional, mas que resiste incrivelmente bem ao tempo pelo ritmo acertado, pelo detalhe com que descreve os esforços conjuntos dos astronautas e do pessoal de terra para contornar o desastre e pelo elenco impecável de ponta a ponta, no qual se destacam Tom Hanks, Ed Harris e Gary Sinise.
Los Angeles – Cidade Proibida
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Vamos começar pela dupla fabulosa formada por Russell Crowe e Guy Pearce, como dois detetives em tudo diferentes na Hollywood dos anos 40: enquanto Crowe é um tipo bruto, que os chefes de polícia exploram para o trabalho sujo, Pearce é o sujeito cerebral, sem experiência das ruas mas destinado a uma grande carreira. Juntos, eles vão enveredar por um labirinto de corrupção e glamour, sexo e política, crime e escândalo na insaciável Los Angeles da “era de ouro” do cinema. Kim Basinger está deslumbrante, Kevin Spacey está enregelante e James Cromwell dá um nó no espectador nesta adaptação heróica do livro noir de James Ellroy, com quase 200 personagens, em que muita coisa de verdade se mistura à imaginação do autor, que manja desse período como ninguém. Uma façanha monumental do diretor Curtis Hanson
Tubarão
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Se você nunca viu ou viu há muito tempo e acha que agora o tubarão mecânico vai deixar a coisa toda com cara de antiga, garanto: trata-se de um tremendo engano. Aos 28 anos, Steven Spielberg fez um filme perfeito; basta começar para não poder parar – e, quando a criatura finalmente faz sua primeira aparição por inteiro, com a bocarra escancarada, depois de uma hora de filme, você nem vai mais notar o quanto o boneco é rudimentar, porque aquelas imagens da barbatana dorsal cortando a água e o rastro de sangue e morte que vem atrás dela já fizeram seu trabalho. Spielberg tocara em uma veia profunda: o pavor primal da presa diante do predador, que ganhava força redobrada por causa daquela hora de suspense em que nada se via e tudo se imaginava. Tubarão instaurou pânico e fez o turismo despencar nas cidades praianas americanas: naquele verão de 1975 (e o lançamento brasileiro, em 25 de dezembro, também pegou em cheio a temporada de calor), ninguém nadou tranquilo. Nem em piscina: bastava haver água e alguém já saía imitando o “tan, tan, tan, tan” da trilha de John Williams, levando a garotada à histeria. Confira; é coisa de mestre.
Sicario
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Ao estourar um “aparelho” do tráfico no deserto do Arizona, a agente da SWAT Kate Mercer (Emily Blunt) e sua unidade encontram uma cena grotesca: entre as paredes da casa, escondidos pelo dry-wall, cadáveres às dezenas aguardam sua descoberta – todos de pé, lado a lado, como um coro que tem algo de terrível a anunciar. Quem viu outros filmes do diretor Denis Villeneuve, como Incêndios ou Os Suspeitos, sabe que esse é o tipo de horror que ele é mestre em conjurar – e, no qual, aqui, ele é magnificamente auxiliado pela fotografia de Roger Deakins. Kate está tão chocada que no mesmo dia se junta a uma força-tarefa formada por sabe-se lá quais agências governamentais, com sabe-se lá qual propósito. Pelo cinismo de Matt Graver (Josh Brolin), o agente que comanda a força-tarefa, não há de ser boa coisa. Pelo jeito soturno de Alejandro (Benicio Del Toro), o sujeito enigmático que acompanha Graver, pode-se ter certeza: vai ser pior ainda do que se imagina. Villeneuve retrata aqui não só os métodos dantescos dos cartéis mexicanos e a clandestinidade crescente das forças que os combatem; o que ele conjura é uma situação de violência tão permanente e tão descolada de qualquer sentimento humano que só se pode descrevê-la como um inferno.
Seven – Os Sete Crimes Capitais
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E, por falar em inferno, poucos filmes entram tão fundo nele quanto este shocker do diretor David Fincher, em que um detetive veterano (Morgan Freeman) e um cabeça-quente (Brad Pitt) perseguem um serial killer que escolhe as vítimas de acordo com os pecados capitais – gula, luxúria, ira, inveja, avareza, soberba e preguiça – que elas representam, em encenações grotescas (um conselho: ponha alguma distância entre o jantar e o filme). O clima é pesadíssimo e o domínio visual de Fincher é, como sempre, de embasbacar. mas o que realmente pega é a melancolia – aquela sensação de cansaço e desânimo de quem, como o personagem de Freeman, vive lutando contra o mal ao mesmo tempo em que sabe que nunca vai ser possível vencê-lo de fato.