Do além: 5 filmes de terror que merecem ser descobertos
Exorcismos, alucinações, insinuações sobrenaturais: uma boa coleção de arrepios no streaming
O Último Exorcismo
Onde: Amazon Prime Video
O título é de assustar, em um sentido ou em outro, mas a premissa é inteligente: um pastor do “Cinturão da Bíblia” americano conta a uma equipe de documentário (fictício, frise-se) como, por ter sido treinado desde menino para evangelizar, só na idade adulta percebeu que não acredita em Deus nem menos ainda no demônio, embora tenha realizado dezenas de exorcismos. O ritual, diz ele, tem certo valor psicológico quando leva o exorcizado a superar seus tormentos; mas não passa de teatro. A fim de demonstrar seus truques, ele leva a equipe consigo a uma casa no interior da Louisiana onde uma menina diz estar possuída. O caso parece ser o de costume: adolescente órfã de mãe e reprimida pelo pai está manifestando a sexualidade na forma de possessão demoníaca. Mas daí surge uma complicação, e depois outra, e então outra maior ainda. E o pastor, enfim, parece estar diante de um episódio genuíno – ou não?
Boa Noite, Mamãe
Onde: GloboPlay
Lukas e Elias (Lukas e Elias Schwarz), garotos de seus 10 anos, confabulam com aquela intimidade dos gêmeos: não pode ser realmente sua mãe a mulher (Susanne Wuest) que voltou de uma cirurgia com o rosto assustadoramente envolto em ataduras; deve se tratar de uma impostora, ou não agiria de forma tão estranha. Ora essa mulher passa dias inteiros na cama, alheia ao mundo, ora se mostra irascível e impaciente. Lukas, em particular, desperta sua irritação: ela o tranca para fora do quarto quando põe Elias para dormir, serve o jantar a Elias mas não a ele. A desconfiança dos gêmeos vai subindo de grau, até desaguar em atitudes chocantes. Os diretores austríacos Veronika Franz e Severin Fiala acrescentam aqui um belíssimo exemplar à linhagem dos filmes de horror com crianças: a dupla trabalha não apenas com o enigma associado a essa mulher sem rosto e a reação dos gêmeos a ela, como também com um jogo sutil de oposições – a paisagem ensolarada e silvestre que circunda a casa e o interior estéril dela, o ver e não ser visto, a inocência da infância e a malignidade que ela pode conter. Uma dica: olho vivo no final.
Ecos do Além
Onde: Amazon Prime Video
É impossível não notar certa semelhança entre a trama deste terror e a de O Sexto Sentido. Uma pista: logo de início, o espectador vê-se diante de uma criança que conversa com pessoas mortas. Mas se trata apenas de coincidência, já que o filme foi lançado nos Estados Unidos pouco depois do “concorrente”. O trunfo de Ecos do Além está nos personagens bem desenhados e nos diálogos precisos, escritos com capricho pelo diretor David Koepp (roteirista de Parque dos Dinossauros e Missão Impossível). Na verdade, o protagonista não é o garoto com poderes paranormais, e sim seu pai, interpretado com garra por Kevin Bacon. Ele faz um sujeito desanimado com sua rotina de operário, que, depois de uma sessão de hipnose, começa a partilhar dos dons de seu filho. Apesar de receoso, acha que descobriu algo que pode dar sentido a sua vida. É envolvente e garante bons sustos, sem apelar para cenas sanguinolentas.
O Exorcismo de Emily Rose
Onde: Netflix
Laura Linney é uma advogada de defesa e Scott Campbell é um promotor público; ambos se enfrentam no julgamento de Tom Wilkinson, um padre que deixou a adolescente Emily Rose (Jennifer Carpenter, de Dexter) morrer durante a tentativa de expulsar nada menos do que seis demônios de seu corpo. Em casa, possuída, Emily come insetos, fala com voz roufenha e pratica poses demoníacas de ioga. No tribunal, pondera-se se é válido ou não julgar um problema espiritual na esfera secular. É menos improvável do que parece, já que o filme do diretor Scott Derrickson, de Doutor Estranho, baseia-se em um episódio ocorrido na Alemanha nos anos 70, quando dois padres e os pais de uma garota foram a julgamento por um ritual de desfecho trágico. Em essência, tem-se três ótimos atores fazendo “escada” para um vilão que não precisa nem dar as caras para deixar a plateia apavorada – basta sugerir sua presença e vinte séculos de civilização judaico-cristã já fazem todo o serviço. Mas como fazem.
A Autópsia
Onde: Amazon Prime Video
Dirigido pelo norueguês André Ovredal, de O Caçador de Troll, o filme tem pouquíssimos personagens, e um deles nem vivo está. Brian Cox e Emile Hirsch são pai e filho que tocam uma funerária que é também a morgue da cidadezinha em que eles moram. Certa noite, um cadáver estranho vai parar lá: no porão de uma casa em que a polícia está investigando o massacre de uma família, descobre-se o corpo de uma jovem. Não parece haver nenhuma ligação entre ela e os crimes do andar de cima, mas o defunto é tão fora do comum – nenhuma marca de trauma, violência ou doença, e nem de decomposição – que o xerife o despacha no meio da noite para os legistas. Quando eles começam a examinar os órgãos do cadáver, aí o negócio fica sinistro mesmo. Quem tem nojo de cenas de necrópsia deve passar longe. E é claro que, ao mesmo tempo, coisas perturbadoras acontecem. É uma noite de tempestade e a luz cai; o rádio para em estações estranhas; o gato anda cheio de arrepios. O elevador enguiça; as geladeiras se abrem sozinhas, e a casa range. Ou seja: A Autópsia se ocupa de tirar o horror do ambiente claustrofóbico, do elemento muito real proporcionado pelo sangue e pelas vísceras e do elemento sobrenatural que – será? – pouco a pouco se insinua na trama. Há um exagero aqui, uma bobagem acolá, mas no geral Ovredal faz a história fluir com segurança.