Por essa você não esperava: 7 filmes com guinadas surpreendentes
Seja drama, suspense, comédia ou horror, sete histórias que pegam o espectador completamente desprevenido
A Perfeição
Netflix
Um dia, Charlotte (Allison Williams) foi um prodígio do violoncelo. Mas teve de abandonar os sonhos, a carreira e o conservatório de renome internacional em que estudava para cuidar da mãe doente. Agora que a mãe se foi, Charlotte se reaproxima de Anton (Steven Weber), o diretor do conservatório. É calorosamente recebida por ele e também por Lizzie (Logan Browning), a jovem que ocupou seu lugar como estrela da instituição e que ela conhece em um evento na China. Conversa vai, conversa vem, Charlotte e Lizzie começam um affair tão quente que imediatamente decidem viajar juntas, na base do ônibus e da mochila, pelo interior chinês. E aí acontece algo absolutamente inacreditável. E depois desse “e aí” vem outro, e então mais outro, até o final de um mau gosto gloriosamente atrevido e em perfeita sintonia com o tom da história. Allison, que começou em Girls e se provou em Corra!, segura todas e está virando um expoente do neo-horror.
Um Dia Difícil
Netflix
Neste exímio thriller cômico, o policial Ko (Sun-kiun Lee, o ricaço de Parasita) vem tendo uma noite de pesadelo: sua mãe morreu e está sendo velada; sua unidade na delegacia está sendo investigada por corrupção; ele acabou de atropelar e matar um sujeito numa rua deserta; e um desconhecido o persegue com ameaças. Cada problema que Ko resolve faz com que outros dois apareçam em seu lugar – e, como ele tenta resolver todos os problemas ao mesmo tempo, a confusão vai evoluindo para o incontrolável. Este é só o segundo filme dirigido pelo sul-coreano Seong-hun Kim, que desde então fez o ótimo O Túnel e a sensacional série de zumbis medievais Kingdom para a Netflix. No enredo, lembra o australiano Segredos de um Crime, de 2013 – mas a pegada é completamente diferente.
As Duas Faces de um Crime
Prime Video
Este é um dos clássicos da reviravolta. Edward Norton, em seu primeiro papel no cinema (e não é à toa que ele imediatamente estourou), faz o coroinha de igreja que talvez seja intelectualmente um pouco simples – e que quase certamente assassinou de maneira bárbara um arcebispo, uma vez que foi encontrado coberto no sangue da vítima. Seu advogado de defesa, interpretado por Richard Gere, é uma estrela dos tribunais, um homem inteligente e arguto e também um sujeito bastante complicado. Mas, embora isso para ele não seja condição para aceitar um caso, ele acredita na inocência do rapaz caipira do Kentucky, que jura que havia outra pessoa no local do crime: tem de haver algo mais nesse rolo. E como há. Prepare-se para recolher seu queixo do chão.
O Homem que Copiava
Prime Video
André (Lázaro Ramos) tem 19 anos, tira xerox numa papelaria e ama Silvia (Leandra Leal), a vizinha da frente, que trabalha numa loja de roupas e mora com o pai. Pelo binóculo, André montou uma colagem mental do quarto de Silvia, feita com base nas imagens que vê no espelho da menina. Tudo na vida de André segue esse princípio. Enquanto trabalha, ele lê fragmentos dos textos que está copiando e monta essas informações em sua cabeça de formas inusitadas. Cada situação que vive se repete, mas num outro contexto. E cada uma das poucas frases que diz é acompanhada, na sua narração, de uma torrente de pensamentos. O diretor e roteirista Jorge Furtado extrai muito humor desses descompassos, como na cena em que André, para se aproximar de Silvia, finge escolher um robe para sua mãe. O preço da roupa – 38 reais, que ele não tem – vai se tornar um motor na vida dele e dos outros personagens. A cada cena, essa história se complica e aumenta. Uma beleza de roteiro e uma felicíssima escolha de elenco compõem um filme em que nada é copiado, e tudo é original.
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Clique e AssineKiller Joe – Matador de Aluguel
Prime Video
Thomas Haden Church, Emile Hirsch, Gina Gershon e Juno Temple formam uma família exemplar daquilo que os americanos chamam de white trash, ou “lixo branco”: é dura a competição entre o pai, a madrasta, o filho e a filha pelo posto de mais ignorante, atrasado e amoral. Pelo menos eles têm alguma noção de sua estupidez: quando o rapaz resolve matar a mãe para recolher o seguro de vida, ele e o pai chegam à conclusão de que a tarefa está acima de suas possibilidades. Contratam então Joe, um policial corrupto que faz bicos como assassino profissional e é encarnado com bravura por Matthew McConaughey. Os desdobramentos são sórdidos e inesperados. O diretor William Friedkin, de O Exorcista, mostra como é que se faz.
Logan Lucky – Roubo em Família
Netflix, HBO Go
Estacionados no subemprego e sempre ouvindo um sertanejo no rádio, mexendo no motor do carro ou conversando com o sotaque espesso da Virgínia Ocidental, os irmãos Logan – Channing Tatum, Adam Driver e Riley Keough – não têm lá muita cara de gênios do crime. Parece delírio que eles se proponham a sair da pindaíba assaltando o circuito da Nascar no dia da prova das 600 milhas – e uma alucinação que Joe Bang (Daniel Craig), que aliás está preso, e seus dois irmãos parvos possam explodir o cofre. E, no entanto, o clã surpreende (inclusive a si mesmo). Logan Lucky tem as tiradas rápidas, os cortes cheios de humor e as estratégias mirabolantes do grande sucesso de Steven Soderbergh, Onze Homens e Um Segredo. Mas aqui ele troca o glamour pela caipirice e pelo improviso. É pura diversão – e, nos minutos finais…
O Presente
HBO Go
Tendo se mudado de Chicago para uma belíssima casa em Los Angeles, Simon e sua mulher, Robyn, trombam com Gordo, que pergunta: por acaso Simon não se lembra dele da escola? A cena que dá a partida nesta estreia na direção do ator australiano Joel Edgerton (que também escreveu o roteiro e interpreta Gordo) é de um mal-estar evidente. Mas por quê? O que está fora do lugar aí, e por que Simon (Jason Bateman) fica tão irritado quando, no dia seguinte, o casal encontra à porta uma garrafa de vinho com um cartão de boas-vindas? Talvez porque Gordo tenha se afeiçoado demais a Robyn (Rebecca Hall). Talvez porque ele seja um tipo esquisitão, que parece estar meio falido e se convida o tempo todo. Adoro esses suspenses em que um menosprezo ou uma maldade disparam situações incontroláveis – e Edgerton, muito competente, cria a sensação crescente de um jogo denso cujas regras só os dois adversários conhecem.