‘Ferrugem’: um ótimo nacional encara o cyberbullying
Em lados opostos da viralização de um vídeo, dois adolescentes vivem humilhação, culpa e o mais completo isolamento
Um celular perdido, um vídeo viralizado, e Tati, de 16 anos, se vê no meio de um furacão que abalaria qualquer um – e muito mais uma menina a quem ainda falta o equipamento emocional para lidar com uma situação tão drástica de exposição da intimidade e de ostracismo social. Os amigos e amigas vão caindo fora; com os pais, ela não consegue falar. Renet, o garoto com quem ela começava a engatar um flerte quando tudo começou, dá as costas a ela. E Tati, interpretada pela ótima novata Tiffanny Dopke, de fisionomia suave e jeitinho cativante, sucumbe à pressão. Ferrugem, do diretor Aly Muritiba, é um dos pontos altos de uma safra surpreendentemente boa do cinema nacional nos últimos meses (completada ainda por Aos Teus Olhos, As Boas Maneiras, O Animal Cordial e Benzinho). Da agitação e cacofonia dessa primeira parte do filme, Muritiba vai, na segunda metade, para um estilo oposto: com atenção e reflexão, acompanha o sofrimento de Renet (o também muito bom Giovanni de Lorenzi) com as consequências do episódio que afetou Tati. Aqui, duas visões morais muito distintas se opõem: a do pai (Enrique Diaz), que quer poupar Renet, e a da mãe (a calorosa Clarissa Kiste), que quer obrigá-lo a enfrentar os fatos. Maduro, lúcido, muito bem escrito e filmado, Ferrugem está na comissão de frente dos possíveis indicados do Brasil ao Oscar do ano que vem.
Assista aqui o video com a resenha: