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Isabela Boscov

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Hoje é um bom dia para ver (ou rever)… Três Vezes Amor

Uma comédia romântica com lucidez, inteligência, espirituosidade – e algum romance Mais lidas1Mundo Greves e manifestações param a França contra reforma da Previdência2Brasil Lula vai entregar medalha de mérito a Xuxa e Janja no Planalto3Política O duro conselho que Datena ouviu de Kajuru e decidiu ignorar4Política Marçal ultrapassa Nunes e encosta em Boulos em nova […]

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 16h21 - Publicado em 14 jun 2016, 19h35
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  • Uma comédia romântica com lucidez, inteligência, espirituosidade – e algum romance

    Salvo falha de memória, acho que nunca recomendei aqui no blog uma comédia romântica. Não é que eu não goste do gênero – gosto, e muito; basta lembrar que, nas mãos de um contingente de grandes roteiristas, diretores e astros, a comédia romântica foi um dos motores de uma era de ouro em Hollywood, nos anos 30 e 40. O que eu não gosto é da maneira apática, esquemática e pouco imaginativa com que o cinema costuma tratá-la hoje. Há que se premiar, então, as exceções, como esta delícia que está disponível no Netflix e que, já no título (tanto o original, “Definitivamente, Talvez”, como o brasileiro), explicita sua filosofia: isso de “feitos um para o outro” é uma coisa duvidosa. Às vezes há muita gente na linha do amor de uma pessoa, às vezes não há ninguém – e, quase sempre, a questão não é encontrar-se, é achar uma maneira de ficar junto.

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    O roteiro e a direção do canadense Adam Brooks são cheios não só de lucidez, mas também do indispensável em uma comédia romântica – graça e graciosidade. E colabora muito para o saldo positivo a perfeição que é o trabalho de Ryan Reynolds no papel do pai que, na tentativa de explicar à filha de 11 anos por que seu casamento está acabando em divórcio, conta para ela uma versão “censura livre” de sua vida amorosa. É tudo tão espirituoso que não aborrece nem aquela parte do público que faz cara de sofrimento sempre que alguém fala em ver um filme com “amor” no título.

    Leia a seguir a resenha que publiquei quando o filme foi lançado em circuito:

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    Realismo romântico

    No simpático Três Vezes Amor, um pai tenta explicar à filha que, às vezes, há mais de uma pessoa certa

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    Às vésperas de se divorciar, um pai tem de explicar à filha o que é incompreensível para uma criança: que amor e paixão nem sempre são permanentes – e, o mais difícil, podem acontecer de maneira igualmente verdadeira com uma, duas ou muitas pessoas no decorrer da vida. Na tentativa de dizer algo que parece tão duro com alguma delicadeza, Will (Ryan Reynolds) conta então a Maya (Abigail Breslin) a história das três namoradas mais sérias que teve – com nomes trocados, para que ela não saiba qual delas terminou por se tornar sua mãe. Eis aí algo de novo: uma comédia romântica que parte do princípio de que o amor tem mais a ver com circunstâncias do que com predestinação. Escrito e dirigido por Adam Brooks, autor do também muito espirituoso roteiro de Wimbledon, Três Vezes Amor vai ainda mais longe na sua defesa do realismo romântico. Esse é o raro filme em que os personagens saem para trabalhar todos os dias, pensam em várias outras coisas que não suas fantasias amorosas e tomam decisões de natureza prática que alteram o curso de sua vida pessoal. Aquilo que esse gênero costuma tratar como pano de fundo – carreira, ambições ou a falta delas –, aqui é a razão pela qual os relacionamentos acontecem como acontecem.

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    Will começa sua narrativa em 1992, quando vai para Nova York trabalhar como voluntário na primeira campanha presidencial de Bill Clinton. Democrata apaixonado, ele deixa para trás Emily (Elizabeth Banks), a namorada com quem pretende se casar, a qual vai experimentar alguma dificuldade em se manter fiel. No trabalho, conhece April (Isla Fisher), que é inteligente e despachada mas também indecisa, e desperdiça seus talentos em subempregos. E encontra ainda Summer (Rachel Weisz), uma pós-graduanda em jornalismo que transa com seu orientador (Kevin Kline) – o qual, em sua inocência interiorana, Will pensa ser o pai dela. Todas as três continuarão a entrar e sair da vida de Will nos anos seguintes. E todas, em algum momento, serão a mulher certa para ele: o que muda em Will é o seu grau de experiência, que o esclarecerá não só sobre as verdadeiras cores de Emily, April e Summer, mas também sobre as de Clinton.

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    O elenco é primordial num enredo como esse, e também aí o diretor fez escolhas felizes. Elizabeth Banks, a mais fraca do conjunto, é a que menos aparece. Rachel Weisz e Isla Fisher se mostram, cada uma à sua maneira, luminosas. E Ryan Reynolds é um achado. Vindo de produções como Blade Trinity, ele se prova aqui um ator discreto, com ritmo cômico mas que não tenta fazer comédia, e que tem charme mas não o usa como muleta. Tem, ainda, um traço pessoal encantador: é o tipo de sujeito muito alto que nunca sabe bem o que fazer com tanta altura. Para um galã, seria um defeito – mas, para um personagem possível, é o que basta para começar a derreter qualquer gelo.

    Isabela Boscov
    Publicado originalmente na revista VEJA no dia 23/04/2008
    Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
    © Abril Comunicações S.A., 2008

    TRÊS VEZES AMOR
    (Definitely, Maybe)
    Estados Unidos/Inglaterra, 2008
    Direção: Adam Brooks
    Com Ryan Reynolds, Abigail Breslin, Rachel Weisz, Isla Fisher, Elizabeth Banks, Kevin Kline, Adam Ferrara, Derek Luke, Kevin Corrigan

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