Começa como um road-movie, e aí… uma virada radical
Este entrou esta semana no Netflix do jeito que eu gosto – como uma completa surpresa.
No começo, parece um road-movie: dois rapazes estão fazendo companhia a uma garota numa longa viagem de carro de Massachusetts à Califórnia. Pela conversa fácil, os silêncios confortáveis e o rodízio na direção, está claro que os três são melhores amigos. Aos poucos, mais detalhes vão surgindo. Nic (Brenton Thwaites) e Haley (Olivia Cooke) são namorados em via de romper – ele está de muletas, e depreende-se que sua saúde vai piorar e em breve ele precisará de uma cadeira de rodas. Um câncer ósseo, talvez? Seja o que for, ele não quer que Haley fique presa a ele. Vem à tona, também que eles são todos alunos do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, mas Haley está se transferindo para a Califórnia. Talvez tenha a ver com o fato de Nic e Jonah (Beau Knapp) se terem envolvido em uma confusão braba com um hacker chamado Nomad. Enquanto eles cruzam as paisagens rurais do interior, dormem em motéis de beira de estrada ou param em postos de gasolina, Nomad não desiste de provocá-los: manda mensagens crípticas ou imagens de câmeras de trânsito para provar que está de olho neles a cada passo. A certa altura, Nic e Jonah localizam o sinal de Nomad: ele vem do meio do deserto, um desvio de apenas uns 100 quilômetros da rota que eles estão seguindo.
E aí tudo vira.
Não posso dizer que rumo The Signal vai tomar, ou eu estragaria toda a brincadeira (e nem vá você procurar mais informações antes de ver o filme). Mas, para ter uma ideia do clima, pense em algum daqueles clássicos elegantes da ficção científica dos anos 60 e 70, como O Enigma de Andrômeda ou Corrida Silenciosa – aqueles filmes rigorosos, controlados, cheios de atmosfera e de augúrios, com planos longos, composições simétricas e cores neutras. (Tem um quê também de um filme que eu adoro, O Abrigo, com Michael Shannon.) Laurence Fishburne entra na história, em um papel central, e Lin Shaye, veteraníssima da produção B, tem uma participação sob medida. É bem verdade que, lá pelos últimos vinte minutos, essa concentração notável da primeira hora se dissipa um pouco: The Signal muda para um cenário mais amplo, e a expansão geográfica parece afetar também suas coordenadas narrativas – mas nada que o desrecomende.
Fui procurar mais referências (depois de ver o filme, bem entendido) e descobri que The Signal é o segundo longa-metragem do cinegrafista William Eubank, e que o primeiro, Love, de 2011, também consiste de um prólogo seguido de uma guinada – e a história me pareceu interessantíssima. Vou conferir Love na primeira oportunidade; quem sabe o criativo William Eubank não me rende mais um garimpo aqui no blog?
THE SIGNAL
Estados Unidos, 2014
Direção: William Eubank
Com Brenton Thwaites, Olivia Cooke, Beau Knapp, Laurence Fishburne, Lin Shaye, Robert Longstreet