Oferta Consumidor: 4 revistas pelo preço de uma
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Oscar 2017: Mais dois candidatos para você conferir

Existir é difícil – mas compensa – no sueco “Um Homem Chamado Ove” e na animação “Minha Vida de Abobrinha”

Por Isabela Boscov Atualizado em 20 fev 2017, 18h27 - Publicado em 20 fev 2017, 18h07

Todos, na opinião de Ove, são “idiotas!”: é o que ele grita para os motoristas que circulam de carro na rua de pedestres do seu condomínio, para a caixa do supermercado que diz que o preço das flores é diferente conforme a quantidade comprada, para a moça que deixa o cachorro fazer xixi na calçada, para o sujeito que bate na caixa de correio quando manobra para entrar na garagem – para qualquer um, enfim, que desrespeite alguma das infinitas regras com que Ove tenta regimentar sua vida e a dos demais. Mas, no candidato sueco ao Oscar de filme de estrangeiro, o ator Rolf Lassgard interpreta Ove com uma energia tão obstinada, e com uma exasperação tão humana, que o estereótipo do velho ranzinza logo se desfaz: Ove, na verdade, não suporta o caos da existência, e tem um medo profundo das desgraças que ele pode operar na sua vida, ou na vida dos outros. Em flashbacks bem dosados, que retrocedem até a infância de Ove e então sua juventude, o diretor Hannes Holm mostra como o protagonista aos poucos foi formando sua visão fatalista do mundo. A obsessão com a ordem é, para Ove, um algoritmo interno de sobrevivência. E, como a ordem dificilmente leva a melhor no mundo, Ove decide que está farto e vai é se suicidar – um plano que seus vizinhos, sem querer, frustram repetidas vezes.

Um Homem Chamado Ove
(Divulgação)

Toni Erdmann, o concorrente alemão de Um Homem Chamado Ove na categoria de produção estrangeira, também tem um protagonista solitário lá pelos seus 60 anos, e vem ganhando disparado em favoritismo. Mas, embora Ove seja superficialmente um filme mais previsível, ele é também muito mais autêntico. O viúvo Ove é mesmo brusco e rude, mas ele tem um senso de justiça e solidariedade que o conecta, apesar de si mesmo, com seus semelhantes. Principalmente com Parvaneh (a irresistível Bahar Pars), a jovem iraniana casada com um sueco, mãe de duas meninas pequenas e muito grávida de um terceiro filho, que se mudou para a casa da frente, e que não se abala com as grosserias do vizinho. Parvaneh reconhece a solidez de Ove, e vai em frente na amizade, absolutamente tranquila (e olimpicamente unilateral), até Ove conseguir se convencer de que ela não vai desistir dele. Rolf Lassgard é um ator que ocupa um espaço imenso, tanto figurativo quanto literal – é um grandalhão de mais de 1m90, com uma barriga saudável de quem come bastante carne com batatas (a dieta das pessoas sensatas, na opinião dele) –, e uma das belas sutilezas do filme está em como ele afinal passa a ocupar esse espaço não mais de maneira belicosa ou agressiva, mas com uma certa medida de conforto.


Uma certa medida de conforto é o melhor que se pode esperar da vida também na lindíssima animação franco-suíça Minha Vida de Abobrinha – outro azarão na sua categoria, já que está com todo jeito que Zootopia (que é uma graça, de fato) é que vai levar o Oscar. Feita em stop-motion, com simplicidade de traços mas imensa sensibilidade para a eficácia deles, a animação do diretor Claude Barras conta a história de Ícaro – que prefere ser chamado de Abobrinha –, um menino de 9 anos, terrivelmente solitário, que é mandado para um abrigo de órfãos quando sua mãe alcoólatra morre em um acidente doméstico. As crianças que Abobrinha encontra lá têm passados tão infelizes quanto o dele; perderam-se, ou foram enjeitadas, ou retiradas de pais drogados ou violentos. E, sim, Minha Vida de Abobrinha é um filme para crianças: os assuntos difíceis são tratados sem disfarces, mas também sem exageros de dramatização nem sensacionalismo, porque são vistos pelos olhos dos pequenos personagens e descritos com as palavras deles.

Continua após a publicidade
Minha Vida de Abobrinha
(Divulgação)

O mérito é em boa parte do roteiro de Céline Sciamma, que escreveu e dirigiu Tomboy e Garotas, dois filmes excelentes sobre infância e adolescência tribuladas. Céline entende (e sabe expressar) como, na ausência de uma família, as crianças instintivamente tentam formar outros laços familiares – com as outras crianças, com os professores e, no caso de Abobrinha, também com o policial afetuoso que o levou para o orfanato, e que sempre vai visitá-lo. Também essa é uma família sujeita a imprevistos e a separações. Mas proporciona, sim, alegria e alguma segurança. Em Um Homem Chamado Ove e em Minha Vida de Abobrinha, a vida pode ser cheia de tristeza e de perda – e nem por isso menos luminosa.


Trailers

Continua após a publicidade

UM HOMEM CHAMADO OVE
(En Man Som Heter Ove)
Suécia, 2015
Direção: Hannes Holm
Com Rolf Lassgard, Bahar Pars, Filip Berg, Ida Engvoll, Chatarina Larsson
Distribuição: Califórnia
MINHA VIDA DE ABOBRINHA
(Ma Vie de Courgette)
França/Suíça, 2016
Direção: Claude Barras
Distribuição: Califórnia

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SEMANA DO CONSUMIDOR

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 47% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nas bancas, 1 revista custa R$ 29,90.
Aqui, você leva 4 revistas pelo preço de uma!
a partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.