“Queria pôr o público no labirinto”, diz a VEJA diretor de ‘Meu Pai’
Não é todo cineasta que estreia com seis indicações ao Oscar; o francês Florian Zeller conta como conseguiu essa façanha
Não é todo diretor que estreia com seis indicações ao Oscar e atores do calibre de Anthony Hopkins e Olivia Colman. O francês Florian Zeller conta a VEJA como conseguiu essas façanhas no filme Meu Pai.
Quando percebeu que sua peça daria um filme? Quando a peça começou a ser encenada, não tinha certeza de que as pessoas estariam abertas para essa jornada. Fiquei surpreso ao ver que a resposta era a mesma em todos os lugares: as pessoas vinham até nós para compartilhar a própria história. Percebi que havia algo catártico nisso.
Por que escolheu Hopkins e Olivia para os papéis centrais? Quando comecei a escrever o roteiro, o único pai que me veio à mente foi Anthony Hopkins. Ele não só é o maior ator vivo, como o conhecemos por meio de seus papéis como um homem inteligente e sempre no controle. Pensei que seria perturbador vê-lo perder esse controle em um mundo onde a inteligência não funciona mais e não há mais lógica. Quanto a Olivia, há algo mágico nela: assim que você a vê na tela, sente empatia.
Foi sua ou de Hopkins a decisão de dar o nome dele ao protagonista? Batizei o personagem de Anthony como forma de tornar mais real meu sonho de trabalhar com ele. Foi, também, um jeito de informar-lhe que o roteiro havia sido escrito para ele e de sugerir que ele usasse seus próprios sentimentos sobre a mortalidade, de deixar que as emoções pessoais dele e o seu passado dominassem o filme.
Quais os desafios de traduzir na tela a demência? Meu intuito é fazer o público percorrer um labirinto buscando sua saída. Não queria que Meu Pai fosse só uma história; queria que fosse como uma experiência, com todo o stress, a raiva, a ansiedade e a incerteza de perder o rumo.
Publicado em VEJA de 14 de abril de 2021, edição nº 2733