Uma gota de sangue apenas, mais de uma centena de testes diferentes: essa era a promessa de Elizabeth Holmes, uma estudante que, aos 19 anos, largou a prestigiadíssima Universidade Stanford para montar uma startup que prometia revolucionar a área de saúde. Sua empresa, a Theranos, chegou a valer 9 bilhões de dólares e a ser celebrada por presidentes, secretários de Estado, ONGs e associações médicas pela promessa de diagnósticos rápidos, indolores e acessíveis. Exceto pelo fato de que tudo era uma fraude: a tecnologia nunca funcionou (por isso era classificada como “segredo industrial”) e os resultados eram distorcidos, quando não inventados – a incompetência era tal que as amostras demoravam a ser recolhidas e coagulavam antes de chegar ao laboratório. A saúde dos pacientes foi sistematicamente colocada em risco: gente em remissão recebia diagnósticos de volta do câncer e vice-versa, infecções sérias não eram detectadas e portanto não eram tratadas e até as leituras mais corriqueiras vinham erradas. É uma monstruosidade – ou mais uma monstruosidade de um “visionário” qualquer do Vale do Silício a ganhar uma minissérie (Super Pumped, sobre o Uber, chega em maio ao Paramount+).
Não é só pelo tamanho e pela gravidade do embuste, porém, que The Dropout, do Star+, é perturbadora: em um desempenho de convicção assustadora, Amanda Seyfried disseca, na transformação de Elizabeth de garota ambiciosa e socialmente isolada em mulher paranoica, inescrupulosa e sem limites, a cultura americana do sucesso a qualquer preço e a ética peculiar do ambiente das big techs – a doutrina do “fake till you make it”, ou “finja até virar verdade”. Alardeada como uma nova Steve Jobs, Elizabeth enganou investidores, políticos, autoridades, cientistas e parceiros comerciais, mas até sua voz grave e muito característica era só mais um truque – um jeito de continuar fingindo até quando estava muito claro para ela que nada, nunca, viraria verdade.