Turismo online na cidade olímpica
Guias brasileiros em Tóquio encontram em tours virtuais uma resposta criativa em tempos pandêmicos
Numa edição dos Jogos sem torcedores, os tours online acabaram se tornando uma saída original para os guias de turismo Meg Yamagute e Roberto Maxwell. Residentes no Japão há mais de 15 anos, os brasileiros encontraram nas telinhas (e numa boa conexão de internet) uma forma de dividir seu conhecimento sobre o país, criando momentos de conexão com quem busca sentir o clima de Tóquio do ponto de vista dos locais.
Meg conta que já tinha ouvido falar dos passeios feitos via videoconferência há alguns anos, na época em que trabalhava com tours presenciais. Mas foi com a pandemia que resolveu aderir ao formato, no final do ano passado, criando a Mais Japan Tours. Inicialmente resistente à ideia de transferir os passeios à tela do celular, Roberto, fundador da agência Tabiji, diz ter se surpreendido com a experiência e com a resposta do público. Além de oferecerem tours gerais sobre Tóquio, juntos, criaram um modelo de passeio em que exploram as duas áreas onde se concentram os Jogos Olímpicos, cada um de um canto diferente da metrópole, sempre optando por lugares abertos e respeitando os protocolos sanitários.
A ideia principal, porém, não é focar nas competições em si. Como residentes da cidade-sede e conhecedores da cultura do país, os guias se preocupam em transmitir o que acaba ficando de fora da cobertura jornalística convencional. Roberto, que também atua como jornalista, se queixa da superficialidade de algumas notícias que vê por aí. Com os tours, vê uma oportunidade de desmistificar certas questões sobre o Japão, estabelecendo uma troca direta com os participantes.
Diferente de quando estão atendendo clientes presenciais, porém, nem sempre é fácil entender a reação de quem está do outro lado. Monitorar os rostos, sorrisos e olhares dos participantes quando estão atendendo grupos grandes acaba ficando difícil já que, ao mesmo tempo, se preocupam também com o melhor enquadramento das regiões percorridas. Nesse sentido, captar a magnitude de Tóquio torna-se um desafio. Por isso, antes de cada tour, fazem vários testes e pesquisas para poder selecionar as rotas que oferecem as imagens mais significativas no turismo bidimensional.
Apesar dos desafios do formato, os passeios virtuais acabam contemplando públicos que não teriam a oportunidade de vir ao Japão, seja por questões financeiras ou por restrições de mobilidade. Ao receberem o comentário de uma participante que estava acamada em um hospital, os guias se emocionaram. “É muito bom poder oferecer um momento de encantamento a quem não pode viajar”, Roberto me conta.
Meg diz que um ponto alto dos passeios é quando propõem momentos de interação com outros locais, como proprietários de restaurantes ou mesmo transeuntes. Com as trocas, os participantes dizem se sentir parte da conversa, ainda que estejam a milhares de quilômetros de distância. Referindo-se à ideia de que cada encontro é único, ichi-go ichi-e é um provérbio japonês no qual Roberto sempre se baseou para criar seus tours, desde antes da pandemia. Se, antes, estava incerto da possibilidade de conseguir adaptar esse sentimento às limitações pandêmicas, hoje percebe que, mesmo pela tela do celular, os encontros podem ser marcantes.
Informações sobre os próximos tours podem ser encontradas em seus perfis no Instagram: @meg_fromtokyo e @robertomaxwell
Piti Koshimura mora em Tóquio, é autora do blog e podcast Peach no Japão e curadora da Momonoki, plataforma de cursos sobre o universo japonês. Amante de arquitetura e exploradora de becos escondidos, encontra suas inspirações nos elementos mundanos. (@peachnojapao | @momonoki_jp)