A última semana da batalha eleitoral está mais concentrada na vida real, ou seja, nos temas relevantes à sobrevivência econômica dos eleitores e suas famílias, como o aumento real do salário mínimo, o valor futuro das aposentadorias e dos auxílios de subsistência mantidos pelo Estado.
Lula e Jair Bolsonaro passaram a multiplicar ofertas de assistência estatal à metade do eleitorado que está endividada e com restrições de acesso ao mercado de crédito.
Resolveram, também, destacar no rádio e na televisão promessas de empréstimos em bancos públicos para indivíduos empreendedores, subsídios à agricultura familiar e aumento no auxílios financeiros, que passariam a ser pagos 13 vezes por ano.
Essa ênfase em temas econômicos obedece a uma lógica eleitoral esboçada em pesquisas. Lula, por exemplo, lidera a preferência de voto nos segmentos de eleitores com renda até dois salários mínimos (R$ 2.424 por mês). Eles representam cerca de 40% do eleitorado.
Na faixa de renda de até um salário, a vantagem de Lula chega a 33 pontos percentuais, mostrou o Ipec na sondagem divulgada ontem.
Bolsonaro tomou a dianteira nos segmentos com renda acima de dois salários mínimos. Está 14 pontos à frente na faixa até cinco salários e 25 pontos até dez salários.
Por isso, a disputa está concentrada nas ofertas à massa de eleitores empobrecidos e endividados. No rádio e na tevê, a tendência é deixar em plano secundário o embate sobre roubalheiras e violência. Eventos como o ataque armado do ex-deputado Roberto Jefferson a policiais passaram a ganhar mais espaço nas redes.
Qualquer que seja o eleito no domingo, é certo que vai governar num clima de grande expectativa sobre uma rápida reversão da longa crise.
Sete de cada dez eleitores esperam que, no espaço de seis meses, o próximo presidente conduza o país a melhor situação econômica, confirmou a Atlas/Intel em levantamento divulgado ontem.
Tarefa difícil, mas não impossível. Vai depender da competência política do eleito. Exemplos recentes em países vizinhos indicam um ambiente de escassez de paciência dos eleitores, que resulta em drástica redução da “lua de mel” com novos governantes.
Na Colômbia, Gustavo Petro assumiu em agosto com aprovação de mais da metade (56%) da população e baixa rejeição (20%). Com 73 dias de governo, completados na última quarta-feira 19, viu seu apoio cair 10 pontos e a desaprovação subir 20 pontos. Situação semelhante ocorreu com Gabriel Boric, no Chile, no primeiro semestre.
A impaciência com a corrosão da economia está impondo aos novos governos sul-americanos prazos mais curtos para a apresentação de resultados concretos — e favoráveis ao bolso do eleitorado.