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Avanço de Bolsonaro provoca crítica sobre ‘arrogância’ na campanha de Lula

A sete semanas da eleição, Lula lidera mas a vantagem sobre Bolsonaro caiu pela metade

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2022, 18h39 - Publicado em 13 ago 2022, 18h39

Lula lidera, mas Jair Bolsonaro encurtou muito a distância, e isso está produzindo uma crise na campanha lulista.

Seis meses atrás, eles um oceano os separava nas pesquisas. A vantagem acima de 20 pontos percentuais dava a Lula sensação de conforto para fazer o que desejava, inclusive atropelar interesses dos aliados. “Não quero ser candidato do PT”, dizia, “quero ser candidato de um movimento”.

A sete semanas das eleições, o cenário é outro. Bolsonaro avançou, e a diferença caiu pela metade. Ele cresceu no Sudeste, entre homens e, principalmente, na faixa de renda superior a cinco salários mínimos (R$ 6,1 mil) mensais.

O “movimento” de Lula, por enquanto, continua basicamente restrito ao grupo de aliados das últimas quatro décadas. Entre as exceções se destaca o deputado federal André Janones, do Avante de Minas Gerais, que no início do mês resolveu renunciar à própria candidatura e apoiar o ex-presidente.

Janones, 35 anos, advogado de profissão que emergiu na política defendendo caminhoneiros autônomos no locaute de 2017, tornou-se uma voz independente e crítica na campanha de Lula. Tem repetido em público, às vezes por escrito em redes sociais, aquilo que muitos lulistas dizem em privado.

Na sexta-feira, por exemplo, protestou: “Enquanto a esquerda não trocar ‘renda mínima’ por ‘dinheiro pro povo’; ‘carta em defesa a democracia’ ao invés de ‘carta em defesa do povo’; e, ‘nossas diretrizes de programa’ por ‘nossas propostas para os brasileiros’, o bolsonarismo continuará nadando de braçadas.”

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Exemplificou com os riscos para a oposição em Minas Gerais, onde a vantagem de Lula também caiu pela metade, para 9 pontos percentuais, segundo a Quaest. O Estado abriga 16,3 milhões de eleitores (10,4% do total nacional), espalhados por 854 municípios — somente 19 cidades com mais de 100 mil e apenas dois milhões vivem na capital.

“Essas eleições serão decididas nas cidades interioranas, cidades de 2, 3, 20 mil habitantes, totalmente fora do radar da esquerda, mas onde o bolsonarismo tem livre acesso”, argumentou. “Por lá, o ‘Face’ é o WhatsApp. Não é uma rede, mas sim um jornal’. O que sai por lá, vira verdade absoluta, instantaneamente. E o bolsonarismo sabe bem disso (…) Ou a gente sai das ‘fiesps’ da vida, da USP e do Twitter e tomamos os grupos de ‘Whats’, as comunidades, as feiras populares e o interior do país, ou já era.”

Acrescentou: “Chega de esperar que o povo venha até nós, é hora de irmos ao povo! O pedreiro, a doméstica, o garçom também querem escrever uma carta, porém não têm quem leia.”

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(./VEJA)

Na essência, resumiu as críticas internas à prevalência da “arrogância” no lulismo nessa etapa, com intensas disputas internas por fatias do fundo eleitoral e por espaços no desenho de um futuro governo, se houver.

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Em outubro será possível aferir se esse tipo de diagnóstico das fragilidades de Lula está correto ou não. Por enquanto, ele lidera aliados em jogo parado, aparentemente à espera da adesão por gravidade, para conduzir “o movimento” oposicionista.

Pode dar certo, mas o cenário eleitoral do lulismo fixou mais complexo com a injeção de dinheiro do governo diretamente no bolso da metade mais pobre do eleitorado.

Neste mês, a quantidade de moeda transferida a 17 milhões de famílias deverá ser três vezes maior do que foi em julho do ano passado. Vai dinamizar a economia, sobretudo nas cidades interioranas.

Lula diz que “é a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu desde o fim do Império”. Talvez seja exagero, mas ele sabe do que se trata — com esse tipo de manobra no Bolsa Família assegurou a reeleição em 2006, limpando a cena da crise do mensalão. Desta vez, numa ironia da história, Bolsonaro obteve autorização do Congresso com o apoio da maioria de votos da oposição.

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