Lula fez da política externa sua prioridade neste primeiro ano do terceiro mandato, e escolheu o resgate da integração sul-americana como premissa. Faltam três semanas para o ano acabar, e o cenário da América do Sul ficou muito mais complicado, com novas limitações ao projeto do Planalto.
No acordo Mercosul-união Europeia, as melhores perspectivas, hoje, são as de manter a negociação por tempo indeterminado. A oposição declarada de Emmanuel Macron, presidente da França, era previsível, aguardada e deu a Lula a chance de culpar europeus pelo fracasso de um acordo que divide o governo brasileiro.
Há mais. Uma semana atrás, o governo lutou no Senado para garantir a inclusão da Bolívia no Mercosul. Nesta terça-feira (5/12), o Banco Central boliviano anunciou que o país perdeu um terço das reservas cambiais em apenas oito meses, entre dezembro e agosto. Agora somam 2,5 bilhões de dólares.
O acelerado derretimento econômico da Bolívia acontece em meio a uma crise política, derivada do confronto aberto, e cada dia mais intenso, entre o presidente Luis Arce e o ex-presidente Evo Morales.
Arce tenta impedir a volta de Morales ao poder. Morales manobra para derrubar Arce.
Ao mesmo tempo, o governo Lula identifica riscos de implosão política e social na Argentina de Javier Milei, que assume a presidência no domingo.
Sobram dúvidas em Brasília, sobre a capacidade do futuro governo negociar com o Congresso para reduzir o ritmo da inflação (em alimentos, quase 400% ao ano). E, caso fracasse no choque liberal previsto, se conseguirá terminar o mandato.
No outro extremo do mapa, na Venezuela, a ditadura comandada por Nicolás Maduro ameaça com uma guerra para anexação de dois terços do território da Guiana, onde foram descobertos depósitos de petróleo em quantidade equivalente a 60% do pré-sal do Sudeste brasileiro.
Ninguém em Brasília acredita que Maduro, efetivamente, inicie uma guerra. Não tem apoio doméstico, como ficou demonstrado na grande abstenção (mais de 60%) no referendo de domingo (3/12) sobre a anexação de parte do território do país vizinho. Não possui dinheiro suficiente para financiar a empreitada e, mais relevante, enfrentaria reação militar dos Estados Unidos, que já deslocaram militares para a Guiana.
O problema está na falta de alternativas da cleptocracia chefiada por Maduro para vencer a eleição presidencial prevista para 2024. Acuada, pode acabar insuflando a população com o objetivo de uma cartada militar, na invasão da Guiana, e consequente suspensão da eleição presidencial.
Seria uma forma de imolação. Pouco provável, mas não descartável. Até porque suicídios políticos têm sido frequentes na cada vez mais desagregada América do Sul.