A cena eleitoral do Rio pode mudar depois do encontro de Jair Bolsonaro e o ex-governador Anthony Garotinho, previsto para hoje em Campos.
Garotinho tem feito uma campanha típica de deputado federal. É provável que saia da conversa como pré-candidato ao governo do Rio pelo futuro União Brasil (fusão do PSL com o DEM), embora persistam dúvidas sobre a viabilidade jurídica da sua candidatura: ele foi condenado por corrupção eleitoral e está inelegível até 2029.
O ex-governador do Rio (1999-2002) está no alvo dos principais adversários na disputa presidencial, Bolsonaro e Lula. Tem densidade eleitoral, e, por isso, pode influir no rumo do jogo fluminense.
Garotinho disputou a presidência em 2002 com Lula. Ficou em terceiro lugar, com 15 milhões de votos, mas elegeu a mulher, Rosinha, como sucessora no governo estadual.
Mais tarde, em 2010, obteve votação recorde como deputado federal (694, mil votos, 8,69% do Estado). Quando tentou voltar ao governo do Estado, em 2014, perdeu para Luiz Fernando Pezão, vice de Sergio Cabral, atualmente único político preso na esteira da Operação Lava Jato.
Insistiu em 2018, mas acabou atropelado pela Justiça. Ficou inelegível depois de duas prisões e uma condenação a 13 anos e 9 meses de prisão. Na época, mesmo com a candidatura impedida, recebeu nas urnas mais de 84 mil votos, anulados, o suficiente para garantir sua eleição como deputado federal. Sua candidatura é duvidosa, porque depende da revisão da sentença no Tribunal Superior Eleitoral.
A primeira vítima de um acordo Garotinho-Bolsonaro seria o governador Claudio Castro, o vice que substituiu Wilson Witzel, derrubado por impeachment no ano passado, e está na batalha pela reeleição.
Ex-vereador carioca, Castro chegou ao poder como referência do ativismo católico no Rio. Integra o movimento Renovação Carismática, direcionado para conter a migração de adeptos do catolicismo ao pentecostalismo protestante.
Garotinho é reconhecido expoente desse ativismo protestante e atua na confluência de interesses dos principais grupos envolvidos na disputa eleitoral fluminense: o de Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que domina o União Brasil; o de Edir Macedo, da Universal do Reino de Deus, do Republicanos; e, o de Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus/Madureira, que controla a fração local do PSD.
Garotinho atravessou os últimos seis anos preparando seu retorno à disputa nas urnas e cuidando das campanhas bem-sucedidas dos filhos. Um deles, Wladimir, é o prefeito de Campos.
Semana passada, ele recebeu a confirmação da visita de Bolsonaro. No dia seguinte foi surpreendido por um telefonema de Lula, que se reunia em São Paulo com dirigentes do Partido dos Trabalhadores no Rio.
A conversa foi curta e objetiva. Lula perguntou se poderia visitar o clã Garotinho. Combinaram acertar a data. “Certamente, ele soube que íamos receber Bolsonaro”, disse o prefeito ao repórter Ricardo Bruno, do site Agenda do Poder.
Hoje, Bolsonaro desembarca em Campos com um pacote de promessas de obras de infraestrutura (gás industrial, porto e ferrovia) para o Norte fluminense. Em 2018, ele arrematou 65% dos votos disponíveis na região. Com a ajuda de Garotinho.