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Bolsonaro e Pazuello são investigados por excesso de surrealismo

Acusados de prevaricação, omissão e negligência, presidente e ex-ministro começaram o fim de semana sob investigação do Ministério Público Federal

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 jul 2021, 09h00
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  • Jair Bolsonaro
    Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello: opção pela cloroquina, em vez da vacina, deixou a saúde pública à deriva — (Carolina Antunes/Agência Brasil)

    Apareceu um pastor, “conferencista da Paz mundial”, como ele se apresenta. Juntou-se ao cabo da Polícia Militar de Minas Gerais. Ofertavam aos oficiais militares no comando do ministério nada menos que 400 milhões de doses de imunizante. O bilionário contrato para compra de vacinas seria feito com uma empresa dos Estados Unidos, já processada pelo governo do Canadá por tentativa de estelionato: ela nunca fabricou nada, era um bazar de materiais de construção.

    Se a cena fosse no Rio, seria vista como uma versão climatizada da paisagem desenhada em versos no samba “Largo da Carioca” pelo trio Kleber Rodrigues, Adilson Bispo e Zé Roberto, gravado por Zeca Pagodinho:

    Pintou de repente na linha de frente
    Um punguista que agora é pastor
    Ganhando dinheiro dizendo que é
    Um novo salvador.
    Tem um craque que brinca com a bola
    E quer desbancar o Pelé
    E um outro que mesmo sem braço
    Faz da laranja o que quer (…)
    Passei por ali, parei e curti
    E sinceramente gostei.
    Com todo respeito
    É de fazer inveja ao Orlando Orfei.

    O enredo de surrealismo, porém, aconteceu na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, a 1.500 quilômetros de distância do Largo da Carioca.

    Os protagonistas não faziam parte de uma trupe mambembe ou de camelôs de pano-de-chão, do tipo que tange os tímpanos de pedestres serpenteando numa praça ensolarada, na contínua busca de algum trocado para garantir o dia.

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    Eram homens engravatados — vendedores de ilusões, de um lado, e administradores públicos, do outro lado do balcão —, negociando dentro do Ministério da Saúde de um país devastado pela pandemia de Covid-19, com mais de 522 mil pessoas mortas até à noite de ontem, um número 3,7 vezes maior que o de vítimas da bomba atômica em Hiroshima durante a IIª Guerra Mundial.

    Responsáveis pelo sistema público de saúde, o então ministro Eduardo Pazuello, general da ativa, e seu secretário-executivo Elcio Franco, coronel na reserva, deixaram o ministério ser transformado numa espécie de camelódromo na emergência sanitária do ano passado. Nele, desfilavam desde reverendo-conferencista da Paz mundial e cabo da PM vendendo vacinas inexistentes em nome de empório de material de construção, até “carreata” de políticos “pedindo dinheiro” — na descrição de Pazuello —, porque “todos queriam um pixulé no final do ano”.

    A autópsia desse desastre administrativo está sendo feita em sessões públicas da CPI da Pandemia, mas alguns começam a ser responsabilizados na Justiça pelo descontrole governamental na disseminação do vírus da Covid-19, que prossegue pela escassez de vacinas.

    Jair Bolsonaro e o ex-ministro Pazuello, agora abrigado na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, começaram este fim de semana na condição de investigados pelo Ministério Público Federal.

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    Bolsonaro por crime de prevaricação, previsto no artigo 319 do Código Penal com punição de três meses a um ano prisão e multa para funcionários públicos que “dificultem, deixem de praticar ou atrasem, indevidamente, atos que são obrigações de seus cargos, os pratica contra a lei, ou apenas para atender interesses pessoais”.

    Pazuello por improbidade administrativa, sujeito ao confisco ou indisponibilidade de bens pessoais. É acusado de omissão, negligência e atuação ilegal na Saúde. Em vez da ciência e da técnica, escreveram os procuradores, o ex-ministro escolheu tomar decisões “por força de influências externas”, em “comportamento doloso ilícito”, deixando “perfeitamente configurado o ato de improbidade administrativa que, em última análise, é a deslealdade qualificada da conduta do agente público frente ao cidadão a quem deveria servir”.

    A opção pela cloroquina, em vez da vacina, deixou a saúde pública à deriva. O governo perdeu tempo e energia na resistência a contratar imunizantes atestados, produzidos por empresas reconhecidas e qualificadas, enquanto se mostrava receptivo às ofertas ilusórias de ambulantes dos empórios de fraudes, amparados por aliados ansiosos pelo “pixulé”, nas palavras do ex-ministro.

    Bolsonaro e Pazuello agora são investigados por excesso de surrealismo no desgoverno durante a pandemia.

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