Aos olhos dos investidores estrangeiros, o Brasil ainda é o país do futuro, embora esse futuro continue sendo adiado. Para eles, o que importa é a perspectiva de retorno do capital.
Ano passado, o país recebeu um volume de investimento direto estrangeiro sem paralelo na última década.
Foi recorde: 90,5 bilhões de dólares, quase o dobro do volume aplicado no país em 2021 (46,4 bilhões de dólares).
Desde 2012, o Banco Central não registrava um fluxo de investimento direto estrangeiro nesse nível, segundo análise feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Chama atenção porque 2022 foi um ano de incertezas derivadas de um acirrado embate eleitoral, com propostas antagônicas dos principais candidatos à presidência para a economia.
Num exemplo, Lula recauchutou antigas teses de defesa do ativismo intervencionista do Estado na indução da economia. Ao mesmo tempo, Bolsonaro repisou a mistura de tópicos do manual do liberalismo com o ideário de um Estado forte, essencialmente autoritário. Lula venceu por margem apertada (1,8% de vantagem, equivalente a 2,1 milhões de votos).
Nesse contexto de incertezas eleitorais, no entanto, os investidores externos aparentemente se sentiram confortáveis para fazer apostas de longo prazo no segmento de serviços e na indústria brasileira.
O investimento diretos recorde de 90,5 bilhões de dólares traduz a movimentação de capitais internacionais para operações específicas, como fusões e aquisições de empresas no país; construção de novas instalações; reinvestimento de lucros obtidos por subsidiárias locais; e, também, créditos entre empresas de um mesmo grupo econômico — do exterior para as estabelecidas no país.
A maior parte (77% do total) correspondeu a participações no capital de empresas brasileiras. Houve um aumento de 48,2% em comparação a 2021 nessa forma de investimento externo direto.
Parte da motivação pode estar na desvalorização dos ativos brasileiros, consequência da depreciação da moeda nacional.
Na distribuição setorial, o segmento de serviços foi o principal beneficiado, com um crescimento de 14%. O capital externo fluiu para empresas de serviços financeiros, de eletricidade, gás e assemelhados.
Na indústria o aumento foi menor (10%), com privilégio aos investimentos em montadoras de veículos e empresas químicas.
Os negócios financeiros entre empresas de um mesmo grupo, a partir das matrizes e subsidiárias no exterior, somaram 21 bilhões de dólares. É o maior nível desde 2016.
Para o Iedi, essa movimentação de capitais entre companhias pode ter sido estimulada por especulação com a diferença entre as taxas de juros no exterior e a brasileira, que há meses é uma das três mais altas do planeta.