Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

Câmara pressiona Petrobras a mudar o rumo da política de preços

Empresa entrou alvo dos deputados, que não conseguem explicar aos eleitores porque se paga até R$ 130 por um botijão de gás e R$ 8 por litro de gasolina

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 set 2021, 12h24 - Publicado em 18 set 2021, 08h00

A Câmara prepara medidas para obrigar a Petrobras a expor em detalhes a sua política de preços para gasolina, diesel e gás, que é vinculada aos valores do barril de petróleo e do dólar.

A empresa é peça-chave na crise de custo de energia, que deve se agravar, acham deputados governistas e da oposição.

Nos últimos oito meses, a gasolina subiu 31%, o diesel 28% e o gás de cozinha (GLP) 24%. No entanto, a inflação nesse período foi de 5,7%.

O choque de preços está visível para consumidores nos postos de combustíveis e nos pontos de revenda de botijões de gás. Mas vai além, e se dissemina por toda a economia.

Continua após a publicidade

Tem sido decisivo, por exemplo, nos sucessivos aumentos na conta de luz. Com a seca prolongada, as usinas termelétricas movidas a gás e óleo diesel passaram a produzir cerca de 20% da energia elétrica hoje disponível.

Parlamentares aliados do governo e da oposição submeteram o presidente da Petrobras, Joaquim Luna e Silva, a uma sessão de perguntas que durou cinco horas na terça-feira passada. O que seria uma audiência rotineira na Comissão de Minas e Energia, acabou transformada em Comissão Geral no plenário da Câmara.

Luna fracassou em convencer os deputados sobre a transparência da empresa na composição dos seus preços para os derivados de petróleo.

Continua após a publicidade

Foi cobrado porque lançou uma campanha de “esclarecimento” na qual se diz que “tudo que excede R$ 2 no preço da gasolina [R$ 6, na média nacional] não é de responsabilidade da Petrobras”.

Foi uma tentativa de demonstrar sintonia da sua administração com a retórica de Jair Bolsonaro, que passou a culpar governadores pela alta dos combustíveis por causa da tributação estadual (ICMS).

Na prática, Luna levou a Petrobras a um confronto com os Estados. Na véspera do seu depoimento, 13 Estados recorreram à Justiça para proibir a campanha, sob alegação de “propaganda enganosa” — o imposto estadual corresponde a 46% do preço da gasolina.

Continua após a publicidade

Edio Lopes (PL-RR), integrante do Centrão, lembrou que há meses a Câmara cobra explicações da Petrobras, e criticou: “Seria por demais simplista nós querermos atribuir o elevado preço de combustíveis no Brasil apenas ao ICMS. Em 2011 a gasolina custava R$ 2,90 e a carga tributária era a mesma dos dias atuais.”

Bohn Gass (PT-RS) completou: “Estamos exportando diesel, combustível bruto, e importando-o refinado, pagando caríssimo.”

Luna, também, não conseguiu persuadir os deputados sobre a coerência do planejamento da empresa na distribuição de gás para usinas térmicas. Em plena crise energética, seis estão paradas por falta de gás, deixando de produzir o equivalente a 3 mil megawatts, volume corresponde a um terço do consumo da Grande São Paulo.

Continua após a publicidade

“A prioridade na entrega de gás é para térmicas com produção de energia mais cara, em detrimento de algumas térmicas com produção de energia mais barata?” — quis saber o deputado Danilo Forte (PSDB-CE). Ficou sem resposta. Insistiu: “Há uma lógica que eu ainda não consegui entender. Como as térmicas que estão na ‘boca’ do pré-sal, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, podem estar paradas por falta de fornecimento de gás?” Continuou insatisfeito.

Elmar Nascimento (DEM-BA) ironizou: “Parece que nós brasileiros não entendemos nada de gás. O gás natural liquefeito importado do Catar, que fica a 3.500 quilômetros de distância, é vendido no Brasil ao preço médio de 3,6 dólares. Como se pode explicar, então, que o consumidor brasileiro tenha que pagar de 8 a 10 dólares pelo gás do pré-sal?”

Luna retrucou. Disse que o preço do gás natural liquefeito (GNL) está no patamar de 20 dólares e a Petrobras “vende pela metade desse preço”.

Continua após a publicidade

Nascimento manteve a crítica, e disse que a empresa fez uma “apropriação indébita” de bens (gasodutos) da União, que detém o monopólio do gás. Em 2009, o Congresso favoreceu a Petrobras com a prorrogação das concessões de gasodutos por 30 anos e sem custo adicional. “Ela se aproveitou disso”, acusou. “Vendeu o que não era dela! Vendeu gasodutos antigos e pagos para empresas privadas, a NTS e a TAG, por cerca de R$ 90 bilhões.” E propôs que o Legislativo determine o uso desse dinheiro para financiar “uma política de redução do preço dos combustíveis e do preço do gás.”

Além da crise hídrica, tem-se agora uma crise de custo de energia. A conta continua subindo para os consumidores. Em julho, o governo previa gastar R$ 9 bilhões com usinas térmicas. Em agosto, refez o cálculo. A fatura aumentou nada menos que 45% no espaço de quatro semanas. Agora prevê um gasto de R$ 13,1 bilhões com as térmicas, a ser pago na conta de luz.

A Petrobras passou ao alvo dos parlamentares, que não conseguem explicar aos eleitores porque um litro de gasolina custa mais de R$ 8 em áreas como Marechal Thaumartugo, cidade do Acre na fronteira com o Peru. Ou ainda, a razão de um botijão de gás de cozinha (13 kg) ser vendido a R$ 130,00 em cidades do seminário do Ceará.

Em contraste, a empresa multiplica lucros — R$ 43 bilhões no segundo trimestre — e se alinha a Bolsonaro num embate político-eleitoral com governadores estaduais, alguns deles candidatos a uma vaga no Senado em 2022.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acha que há um “estado de letargia e inércia [no governo] em relação ao que está acontecendo”. Manobra para tentar resolver tudo “sem tumulto”, ou seja, nos bastidores, sem o barulho de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Se vai conseguir, nem ele sabe. A Petrobras se candidatou a alvo político em plena crise energética. Conseguiu.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.