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Informação e análise
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TV da “boa”notícia: governo culpa janela pela paisagem

Em plena pandemia, com inflação crescente e diante da emergência hídrica, governo gasta energia no debate de um programa de tevê dedicado às "boas" notícias

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 jun 2021, 14h20 - Publicado em 20 jun 2021, 09h30
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  • Em plena pandemia, com inflação crescente e diante da emergência de uma seca com risco até de racionamento de eletricidade, o governo gasta energia no debate sobre a criação um programa dedicado às “boas” notícias na rede pública de televisão, capitaneada pela Empresa Brasil de Comunicação — uma estatal que custa mais R$ 300 milhões ao Tesouro.

    Talvez tenha a relevância de, eventualmente, suprir carências de entretenimento em alguns gabinetes no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.

    Na Casa Civil da Presidência da República, por exemplo, o ministro Luiz Eduardo Ramos, general aposentado, há tempos reclama do noticiário sobre a pandemia: “No jornal da manhã é caixão; na hora do almoço, é caixão novamente. No jornal da noite é caixão, corpo e número de mortos.”

    Enfastiado, seu antecessor na Casa Civil, Walter Braga Netto, hoje na Defesa, até saiu em férias quando a mortandade chegou a 300 mil.

    Ambos, podem vir a ter nas “boas”notícias da tevê estatal uma alternativa às “narrativas erradas”, como diz o ministro das Comunicações, Fabio Faria, sobre o cenário pandêmico nacional — agora com mais de 500 mil mortos—; à crise energética; à inflação em crescimento, e, ao desemprego de mais de 14 milhões de pessoas, entre outros aspectos da paisagem verde-amarela.

    Alguns governos já adotaram essa receita. Foi o caso do regime do falecido coronel venezuelano Hugo Chávez, a quem Jair Bolsonaro nos anos 90 se referia como modelo “ímpar”, realçando a “esperança” de que sua “filosofia chegasse ao Brasil”.

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    Chávez começou por aí. Criou e apresentou um programa semanal de “boas” notícias na tevê estatal venezuelana, com edições de até oito horas de duração — sem intervalos.

    Gostou e evoluiu na fantasia: acabou transformando o orçamento público numa peça do tipo “boa de se ver”.

    Mudou o plano de contas nacionais. Ordenou que fosse elaborado sob a premissa de que o “socialismo bolivariano” jamais fracassa — como ainda hoje é possível verificar, trata-se apenas um caso de sucesso mal explicado dentro e fora da Venezuela.
    Chávez passou a fazer no orçamento anual — por escrito — a renovação sua eterna promessa de conduzir três dezenas de milhões de venezuelanos ao paraíso.

    Fez isso, literalmente, como se comprova na peça orçamentária de 2011. Nela, tem-se um retrato de um governo que é fonte permanente de “boas” notícias para o povo.

    A lei anual informava que aos “Ministérios do Poder Popular” — todos assim eram nominados — só estava permitido realizar gastos e investimentos dentro dos seguintes programas (ou rubricas)  orçamentários (as):

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    * “Construir a Felicidade Suprema” (46% da despesa total prevista no orçamento venezuelano de 2011);

    * “Estabelecer um Novo Modelo Produtivo e uma Nova Ética Socialista” (26,7%);

    * “Aprofundar a Democracia Revolucionária”(15,5%);

    * e, “Construir uma Nova Geopolítica” (10,1%).

    Chávez governou por 148 meses. Atravessou os 14 anos no poder debitando seu fracasso às “más” notícias divulgadas pela imprensa e à conspiração global do imperialismo-anarco-capitalista.

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    Com a tevê da “boa” notícia, o governo Bolsonaro nem mesmo inova. Apenas insiste em culpar a janela  pela paisagem verde-amarela.

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