Hugo Motta perdeu controle do plenário, crise se agrava na Câmara
Ele paga o preço da hesitação na aplicação das regras de ordem e decoro. Está em singular situação de fragilidade, com a autoridade questionada no microfone
O deputado Hugo Motta perdeu o controle do plenário, fator-chave no domínio do poder na Câmara, antes mesmo de completar o primeiro dos seus dois anos de mandato na presidência da Casa.
Motta foi o personagem oculto nas cenas de insensatez, de violência e de censura desta terça-feira (9/12), com agressão a jornalistas coordenada a um corte abrupto da transmissão da sessão plenária pela tevê pública.
Havia anunciado, pouco antes, uma espécie de combo de Natal de votações de projetos para:
- permitir punições mais rigorosas aos sonegadores, como desejava o governo;
- reduzir o tempo de estadia na prisão dos condenados por tentativa de golpe de estado, com foco no caso de Jair Bolsonaro, como negociaram os partidos do Centrão; e,
- cassar mandatos de Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália; de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), que fugiram para os Estados Unidos; e de Glauber Braga (Psol-RJ), que estava no plenário e sentou-se na cadeira de presidência decidido a comandar a sessão de discursos.
Glauber criticou a diferença de tratamento dado pela Câmara contra ele, que pode ficar inelegível por oito anos, em comparação com Zambelli, Bolsonaro e Ramagem — podem ser cassados e continuar elegíveis.
Atribuiu a discriminação ao fato de ser autor das primeiras denúncias sobre orçamento secreto, o que provocou a ira do então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), artífice da própria sucessão ao escolher e ajudar a eleger Hugo Motta. Em protesto, Glauber anunciou que não sairia da cadeira presidencial, impedindo a sessão de votação.
Criou uma grande confusão. De uma sala próxima, Motta mandou a Polícia Legislativa retirá-lo. Os jornalistas foram expulsos do salão e a transmissão da TV Câmara foi suspensa. Glauber foi levado à força.
Motta viu-se diante do segundo ato de rebeldia do gênero em cinco meses.
Em agosto, num movimento coordenado com a família Bolsonaro, um grupo de deputados aliados foi conduzido por Sócrates Cavalcanti (PL-RJ) a ocupar o plenário da Câmara. Ali ficaram horas e saíram sem confronto. O movimento foi replicado no Senado. Nenhum deputado ou senador rebelado foi punido.
O controle do plenário é fator-chave no domínio do poder no Legislativo. Motta está pagando o preço da hesitação na aplicação das regras internas de ordem e decoro.
Sua autoridade passou a ser questionada no microfone pela centena de deputados governistas abrigados em partidos de esquerda — o PT à frente. Motta tem mais um ano de mandato no comando da Câmara. Está exposto em singular situação de fragilidade na crise que avança
Gramado suspende festividade de natal após acidente aéreo que matou 10 pessoas
Câmara aprova projeto que reduz penas de condenados por atos golpistas
STF suspende parcialmente decisão sobre Lei do Impeachment







