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Lula tropeça em obstáculos no PT, nos Estados e nas alianças

Lula projetou se eleger na esteira de um “movimento”, mas são crescentes as dificuldades internas e externas para montagem dessa frente ampla

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 mar 2022, 14h16 - Publicado em 26 mar 2022, 08h00

Lula projetou se eleger na esteira de um “movimento”, uma frente ampla e multicolorida de forças políticas.

Há oito meses costura de alianças muito além das fronteiras admitidas no Partido dos Trabalhadores, e quase sempre contrariando interesses regionais, normas e as instâncias internas de decisão. Agora, tropeça em obstáculos.

O PT é o único dos 35 partidos realmente organizado, da militância aguerrida à burocracia excessiva. Mas é, também, a única organização partidária que há quatro décadas apresenta o mesmo candidato.

A lulodependência sempre garantiu ao líder petista uma zona de relativo conforto na escolha pessoal de candidatos a vice-presidente, governador, senador e, em alguns casos, deputado federal.

Essa posição foi reforçada durante o segundo semestre pela larga vantagem (média de 20 pontos percentuais) sobre o segundo colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro. Facilitou-lhe a imposição de renúncias a parlamentares petistas com eleitorado cativo e consolidado em várias regiões.

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Se, antes, os protestos ficavam restritos, quase silenciosos, já não é bem assim.

É eloquente e vigorosa a reação dentro do PT à indicação de Geraldo Alckmin à vice-presidência.

O tom crítico subiu. Alckmin passou a ser tratado como “inimigo do povo” em panfletos de grupos com voto no Diretório Nacional.

Nas últimas reuniões, a cúpula petista se preocupou em afirmar a resolução de Lula transferindo a “a decisão” ao partido”.

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Avança dentro do PT a campanha contra a indicação de Geraldo Alckmin, agora no PSB, para a vice-presidência na chapa de Lula —  (./Reprodução)

Isso deu certo em 2002 quando submeteu à votação a escolha do empresário mineiro José Alencar para vice. A repetição da manobra com Alckmin, duas décadas depois, aparentemente tem menor chance de êxito.

Problemas florescem nos Estados. A base dos acordos no “movimento” de Lula foi a entrega das candidaturas aos governos estaduais e ao Senado.

No Pará, por exemplo, o PT antecipou em seis meses a convenção estadual para impedir nova candidatura do senador petista Paulo Rocha, abrindo caminho para um integrante do clã Barbalho, tradicional adversário local.

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Alianças estão ameaçadas, ou em processo de implosão, no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pará e Ceará.

O resultado é o aumento da pressão nos Estados para uma reversão do “movimento”, com preferência aos candidatos petistas.

As dificuldades transparecem, também, na montagem da federação de esquerda, conhecida como “federação do Lula”, agora limitada ao enlace com PCdoB e PV — o PSB negociou, foi boicotado e preferiu pular do barco.

É referência relevante sobre o caráter programático de um eventual governo Lula.

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Isso porque a novidade da federação, ao contrário da antiga coligação partidária, impõe um contrato rígido — e escrito — que define a atuação uniformizada no Congresso, durante quatro anos. Seja como bancada do governo ou de oposição.

Os partidos associados se comprometem a cumprir no voto legislativo um programa formal e registrado. É votar contra ou a favor e em conjunto, na Câmara e no Senado, de acordo com o que estiver estabelecido no papel.

Não há espaço para recusa, muito menos para sair da federação. O risco de punições por infidelidade inclui perda de fundo partidário, de tempo de propaganda no rádio e televisão, e até restrições à participação nas duas eleições seguintes.

Na quinta-feira dos documentos básicos da federação do PT com PCdoB e PV foram apresentados ao Diretório Nacional petista.

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O texto é suficientemente genérico para suprimir a identidade socialista que o PCdoB cultua há décadas.

Em dois tópicos trata de tarefas específicas da federação no Congresso, caso Lula seja eleito.

Um deles, aparentemente, é consensual: a revogação da reforma na legislação trabalhista realizada no governo Michel Temer, que na prática reduziu a um terço as receitas dos sindicatos com tributos compulsórios.

Outro é a revogação da reforma da Previdência, iniciada por Temer e concluída no governo Bolsonaro.

Nesse caso, porém, ficou claro que nem Lula, nem o PT e aliados sabem exatamente o pretendem e, menos ainda, o que fazer. No texto, o item “reforma da Previdência” foi apresentado com uma interrogação (“?”). A dúvida permanece.

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