É a maior seca em noventa anos na metade do país onde vivem dois em cada três brasileiros.
Começou há seis anos e persiste. Quase não choveu no último verão e não se prevê recuperação pelo menos até outubro, quando termina o período seco típico do outono-inverno.
Cidades do Sudeste receberam 400 milímetros de chuva a menos do que o normal nos últimos cinco meses, em meio a uma devastadora epidemia que impõe o uso de água como insumo básico da proteção sanitária.
Usinas hidrelétricas devem começar novembro com oito represas praticamente vazias.
Vinte anos depois de uma grande crise energética, a possibilidade de racionamento de eletricidade voltou às mesas de planejamento das maiores empresas privadas.
O verbo “racionar”, porém, não estará no léxico do governo pelo menos neste ano, indica o Ministério das Minas e Energia. O abastecimento de 2021 “está garantido”, confirma o Operador Nacional do Sistema Elétrico.
Numa perversa ironia, em plena seca e pandemia, o país continua a jogar fora um volume de água tratada suficiente para abastecer um terço da população (63 milhões de pessoas) durante um ano.
Nas cem maiores cidades, quase 40% de toda água potável captada não chega às residências. É um desperdício anual equivalente a sete vezes a capacidade de armazenamento das seis represas do Sistema Cantareira, que atende a nove milhões de pessoas na cidade de São Paulo e dez municípios da região metropolitana.
Desse volume de água captada, tratada e não aproveitada, a maior parte (60%) tem origem em vazamentos na rede nacional de distribuição — informa estudo do Instituto Trata Brasil, da Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para Saneamento e da consultoria GO Associados, divulgado pelo portal Plurale, especializado em meio ambiente.
No documento demonstram que, na seca ou na chuva, joga-se muito dinheiro fora ao se tolerar o desperdício desse volume de água potável.
Uma redução mínima (de 25%) nos vazamentos existentes em encanamentos das redes urbanas possibilitaria um ganho líquido de R$ 27 bilhões num período de quinze anos. Só depende de investimentos das empresas estatais e privadas de saneamento.
Se há uma boa notícia nessa longa seca, é a confirmação do Brasil como um grande, inexplorado e lucrativo mercado de tapa-buracos.