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Informação e análise
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Nigéria atropelou o Brasil, e o bilionário Dangote já lucrou 131%

Empresário abriu indústria de fertilizante de ureia em Lagos. Em Três Lagoas (MS), fábrica inacabada da Petrobras nada produz e custa R$ 1 milhão por mês

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 mar 2022, 10h07 - Publicado em 24 mar 2022, 17h10
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  • Alhaji Aliko Dangote é, hoje, um dos homens mais procurados. Presidentes, ministros e empresários tentam convencer o empresário nigeriano a fornecer-lhes algumas toneladas de ureia agrícola, fertilizante na forma de grãos brancos formulados com nitrogênio (entre 20 a 40% da composição).

    “Eles realmente estão implorando”, disse na terça-feira na inauguração da sua fábrica de ureia granulada em Ibeju Lekki, na Zona Franca de Lagos, próxima à refinaria que está ampliando. Até julho, quando alcança a capacidade plena de produção, será o maior centro de produção de fertilizantes da África.

    Embarques para o Brasil e os Estados Unidos foram realizados numa espécie de teste de mercado, antes da guerra de Vladimir Putin na Ucrânia.

    Nas imagens da festa na fábrica, Dangote não esconde a alegria com os resultados da aposta de US$ 2,5 bilhões, investimento equivalente a R$ 12,2 bilhões.

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    Um ano atrás, quando instalava os últimos equipamentos numa área de 500 hectares, a tonelada de ureia era vendida a US$ 300 (R$ 1.470) no mercado mundial. Duas semanas de guerra jogaram o preço para US$ 695 (R$ 3.405), segundo a Globalfert.

    Isso porque a Rússia saiu do mapa-múndi de produção. Era responsável por 9% da produção mundial de fertilizantes nitrogenados. E fornecia 18% da ureia consumida nas plantações brasileiras de grãos, principalmente as de soja. O Brasil é muito dependente das importações de fertilizantes, em potássio, por exemplo, compra 96% no exterior.

    Os preços tendem a continuar subindo no ritmo da batalha intensa nas planícies ucranianas e das sanções à economia russa. O banco Itaú BBA, em relatório, adverte para riscos adicionais: a ruptura no fornecimento de gás natural da Rússia à Europa “poderá paralisar as indústrias de fertilizantes nos países europeus, principalmente as produtoras de nitrogenados”.

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    Dangote começou a trabalhar no projeto da fábrica de ureia nos arredores de Lagos em 2007. Nessa época, na outra margem do Atlântico, o Brasil celebrava a promessa do petróleo na camada do pré-sal. A Petrobras montou um ambicioso plano para extrair óleo, refinar derivados e produzir fertilizantes nitrogenados.

    Em 2011, a então prefeita de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, Simone Tebet (MDB) doou uma área de 50 hectares para a instalação da terceira unidade de fertilizantes nitrogenados da Petrobras, projetada para fabricar 3,6 toneladas de ureia e outras 2,2 toneladas de amônia por dia.

    Uma grande operação logística foi montada para importar da China um reator de ureia de 370 toneladas, com 27 metros de comprimento e 5,2 metros de altura. Era menor que o reator de amônia, que pesava 761 toneladas, tinha 40 metros de comprimento e 6,4 metros de altura.

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    Chegaram a Mar Del Plata, no litoral argentino, e entraram pelo Rio Paraná, viajando para o Mato Grosso do Sul. A Usina de Itaipu precisou desligar parte da rede de alta tensão, para que as peças pudessem atravessar o desnível de 120 metros do rio.

    O custo do empreendimento em Três Lagoas era equivalente ao do investimento privado na fábrica de ureia em Lagos.

    Dangote foi prudente no planejamento — “só entro em negócios que sou capaz de entender por completo, nunca invisto em algo que não me é claro”, repete em discursos e em entrevistas. Talvez tenha aprendido com o avô, Alhassan Dantata, vendedor de arroz e aveia que se tornou um dos comerciantes mais ricos da África durante a IIª Guerra Mundial.

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    Linha de produção de fertilizantes do grupo Dangote inaugurada em Lagos na terça-feira (22/3) — (./Reprodução)

    Ele é da elite de Kano, a 1,2 mil quilômetros de distância da capital nigeriana, epicentro da comunidade fula, numeroso grupo étnico de pastores nômades. Dangote estudou comércio internacional no Cairo, voltou ao país e, desde 1977, controla grande parte do comércio de commodities da Nigéria. É o africano mais rico na lista da revista americana Forbes, que lhe atribui patrimônio de US$ 11,5 bilhões (R$ 56,3 bilhões) em abril do ano passado.

    Em 2014 já havia “entendido” o mercado de fertilizantes e bancou a aposta na produção de ureia. No ano seguinte, a construção da fábrica da Petrobras estacou por suspeitas de corrupção mapeadas pela Lava Jato.

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    Depois de sete anos, a Nigéria agora vai se tornar autossuficiente em fertilizantes granulados de ureia, com margem para exportações (até US$ 5 bilhões por ano).

    Já o Brasil tem déficit no abastecimento, uma safra (2022/2023) em risco e uma indústria de ureia semi-construída, com equipamentos em deterioração. O custo de manutenção supera R$ 1 milhão por mês. Houve um acordo inicial com o grupo russo Acron, perdido nas incertezas da guerra de Putin.

    Dangote vai celebrar o mais lucrativo dos seus 65 anos, no próximo dia 10. Os ganhos subiram 131% nos últimos doze meses, desde que as máquinas de Ibeju Lekki expeliram o primeiro saco verde de plástico com aqueles grãos branquiços, objeto de desejo de governos e agricultores de todo canto. O Brasil, potência agrícola dependente de importações, é um dos seus mercados preferenciais.

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