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Informação e análise
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No mundo de Bolsonaro, quem importa é a Rússia de Putin

Para Bolsonaro, o líder russo representa novo paradigma de autocrata e se mostra colaborativo naquilo que é prioridade particular, a continuidade no poder

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jul 2022, 15h43 - Publicado em 23 jul 2022, 15h45
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  • Relações com Vladimir Putin? “Está dez, excelente”. E com Joe Biden? “Voltaram a quase uma normalidade”.

    No mundo de Jair Bolsonaro, a Rússia é mais importante, hoje, do que os países que têm sido centrais para a política externa brasileira nas últimas três décadas.

    Donald Trump não deixou de ser referência, mas está na planície. É possível que se reencontrem nas próximas semanas, antes da eleição no Brasil.

    Putin não só representa um novo paradigma de autocrata, como, a exemplo de Trump, se mostra colaborativo naquilo que é a prioridade particular de Bolsonaro — a continuidade no poder.

    Desde que o conheceu há cinco meses, uma semana antes da invasão da Ucrânia, tem sido pródigo em elogios e manifestações públicas de apoio. “Somos solidários”, disse-lhe no encontro em Moscou. “Somos neutros”, afirmou na segunda-feira em conversa telefônica com inimigo de Putin, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenski.

    Em fevereiro, no Kremlin, Bolsonaro pediu ajuda a Putin para vencer a eleição de outubro. Não se conhece a resposta de de Putin, mas a Rússia tem um histórico de interferências em disputas eleitorais nos Estados Unidos e na União Europeia.

    Cem dias depois, em junho, repetiu o apelo a Biden, numa reunião em Los Angeles. Sabe-se que o presidente americano mudou de assunto e, em público, fez questão de elogiar o histórico “robusto” das instituições e do sistema eleitoral brasileiro, que Bolsonaro transformou em alvo de campanha.

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    Olímpico, fingiu que não se importou com Biden, nem com os emissários da Casa Branca que estiveram em Brasília nos últimos 15 meses, sempre com mesma mensagem: os EUA consideram contraproducente o aumento da instabilidade democrática no Brasil, chave na sua prioridade política que é conter o avanço da China.

    No mundo de Bolsonaro, os interesses do Estado brasileiro estão condicionados ao objetivo pessoal, privado, a obsessão de se manter no poder.

    Por isso, rebarbou ofertas como a de integração militar à Otan, sob o status de “parceiro global” — velho sonho dos comandos das Forças Armadas —, apresentada no ano passado, no Palácio do Planalto, por Jack Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, e Juan González, assessor especial de Biden.

    Nesta semana, garantiu lugar na História como presidente que convocou delegações estrangeiras ao Palácio da Alvorada para descreditar o país que governa.

    A lista de participantes desse evento de campanha eleitoral é eloquente. O presidente do Brasil promoveu uma reunião com embaixadores de outras nações e não convidou representantes da China, Reino Unido, Argentina e Chile.

    São quatro dos dez principais compradores de produtos brasileiros. Ano passado importaram US$ 106 bilhões, o equivalente a 38% de tudo que o país vendeu no exterior.

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    Razões pessoais, de natureza eleitoral, na hostilidade — conta-se no Itamaraty. No mapa-múndi de Bolsonaro, a China foi descartada porque é “comunista”, Argentina e Chile porque são “de esquerda”, e Reino Unido “por causa de Putin”.

    Nas horas seguintes, os governos dos EUA e do Reino Unido fizeram questão de reafirmar, em público e de maneira inusual, um “reconhecimento” prévio a quem for eleito no Brasil em outubro, no sistema de votação eletrônica fiscalizado pelas instituições nacionais atacadas por Bolsonaro.

    A China, cujo pragmatismo ainda não permite avaliar consequências da Revolução Francesa de 1789, preferiu se manter silente. Há 43 meses arrosta hostilidades sucessivas e gratuitas de Bolsonaro e do seu clã parlamentar.

    O presidente chinês Xi Jinping não está só. Tem a companhia, entre outros, dos líderes da França, Emmanuel Macron; da Alemanha, Olaf Scholz; da Argentina, Alberto Fernández; do Chile, Gabriel Boric; da Espanha, Pedro Sánchez; e, de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

    Bolsonaro cultiva a imagem de governante de um pedaço bizarro do mundo. Parece e é absurdo, mas tem precedente — Jânio Quadros. As excentricidades de 1961 no Planalto levaram o poeta e embaixador Augusto Frederico Schmidt a resumir em cinco palavras a imagem externa do Brasil de Jânio: “É um país considerado idiota.”

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