Partidos e seus pré-candidatos presidenciais estão diante de um desafio maior que a eleição de 2022: o desenho do Brasil pós-pandemia.
O cenário indica dificuldades nunca antes imaginadas para que a ampla maioria dos eleitores tenha acesso ao mercado de trabalho. Se até a eleição houver vacina e menos contágio, essa deverá ser a principal condicionante do voto.
Isso porque a pandemia não só destruiu empregos, empresas e capacidade produtiva nos centros urbanos. Ela acelerou a automação nas tarefas rotineiras nos setores de serviços e na indústria, na esteira das medidas individuais e coletivas de distanciamento social adotadas nos últimos 14 meses.
A atual taxa de desemprego (14,4%), medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, só permite um vislumbre da dimensão da crise.
O problema não é do índice oficial, mas da realidade do país com 212 milhões de habitantes e a economia combalida na pandemia, numa etapa de transição tecnológica.
A força de trabalho em idade ativa somava 176 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro. Desse total, 100 milhões estavam no mercado de trabalho (cerca de 60% em serviços e o restante dividido entre a indústria e a agricultura).
Outros 76 milhões compunham a chamada população inativa. Esse contingente aumentou em 10,5 milhões de pessoas no trimestre (dezembro de 2020 a fevereiro de 2021) em relação ao anterior (2019-2020).
É o que indicam dados coletados pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), analisados pelo professor José Pastore, da Universidade de São Paulo, para o portal da Fundação Getulio Vargas.
Candidatos presidenciais e seus partidos tendem a enfrentar, no próximo ano, uma campanha marcada pela cobrança sobre políticas públicas de restauração do mercado de trabalho, sugerem as mais recentes pesquisas de opinião pública.
São crescentes as dificuldades da maioria do eleitorado — com pouca ou nenhuma qualificação — para acesso ao mercado de trabalho na economia alquebrada e com a automação intensificada nas tarefas rotineiras durante a pandemia. Principalmente, no setor de serviços que é o maior empregador urbano.
Trabalhadores vítimas da destruição de postos de trabalho, acelerada na crise pandêmica, constituem parcela expressiva do eleitorado. E eles devem enfrentar dois tipos de dificuldades relevantes no pós-pandemia.
Uma é o tempo de criação de novas vagas nas empresas, a partir da realocação de tarefas. Outra é a habilitação do candidato às novas ocupações em oferta.
A mudança estrutural em curso no mercado de trabalho pode gerar novos empregos, mas vai requerer capacitação de pessoas. Isso pode “provocar um abalo temporário”, observou Pastore em conversa com a repórter Solange Monteiro, do portal Ibre-FGV.
É o que deve condicionar o voto em 2022, mesmo com eventual retomada do crescimento — dependente de mais vacina, menos contágio e mortes.
Vai ter candidato à presidência com saudades do tempo em que o Brasil parecia menos complexo.