Para 2 mil prefeitos, a moratória quase perfeita já virou miragem
Governo atraiu apoio de prefeitos à aprovação da PEC do calote com a moratória quase perfeita. Mas embutiu uma exigência: reformar a previdência municipal
As manobras na Câmara para aprovar a PEC do calote nas dívidas judiciais (precatórios) resultaram num texto de emenda constitucional repleto de surpresas, até para quem apoiou o governo achando que levaria vantagem.
É o caso dos prefeitos de 3.387 cidades. Eles estavam aflitos com a perspectiva de cobrança em apenas 60 meses de todo o passivo dos seus municípios com a Previdência Social.
O governo ofereceu prazo estendido para 240 meses para todos os débitos vencidos até último 31 de outubro, incluindo os já parcelados. E mais: com desconto de 40% das multas, de 80% nos juros, de 40% nos “encargos legais” e de 25% nos “honorários advocatícios”. A moratória era quase perfeita.
Na terça-feira, dia de votação da emenda constitucional na Câmara, mais de 300 prefeitos desembarcaram em Brasília, conversaram com deputados e influíram decisivamente na aprovação da proposta do governo Jair Bolsonaro.
O projeto chegou ao Senado. Desde quinta-feira alguns parlamentares estão telefonando aos prefeitos aliados com a seguinte informação: o texto aprovado na Câmara só dá direito ao parcelamento se o município candidato aos benefícios do calote fizer uma reforma na previdência do funcionalismo. É imposição para mais de 2 mil municípios que mantêm regimes próprios de previdência.
Reformar previdência social não é tarefa política fácil, como se viu nos confrontos de servidores com policiais na cidade de São Paulo nesta semana. Para muitos prefeitos, a moratória prometida já virou miragem.