O Partido dos Trabalhadores resolveu celebrar o panorama da economia no primeiro semestre.
Mobilizou suas redes para uma série de anúncios: “Queda no preço do gás de cozinha; redução de impostos para carros populares; queda no valor do quilo da carne; inflação anual muito próxima do centro da meta (3,25%), completamente dentro do teto (4,75%) e deve cair (para 3,5%) em junho.”
É tudo verdade, propaganda legítima. Mas há muito mais, além do alívio na inflação. Por exemplo, uma expansão da economia (entre 1,5% e 1,8%) acima das previsões que o governo fazia no início do ano.
O PT decidiu rotular de “Efeito Lula” a gradual reversão nas expectativas sobre a economia.
Não é bem assim, porque a mudança que se vislumbra, até agora, é consequência de movimentos anteriores, peculiares e mensuráveis no comércio exterior, cujo dinamismo está provocando alívio nas contas externas, no ritmo da inflação e impulsionando o Produto Interno Bruto — ainda em escala muito inferior às necessidades do país.
Foi recorde o avanço do comércio externo nos últimos trinta meses. Desde o fim do ciclo pandêmico, em 2021, o valor dos negócios com exportações e importações se mantém em torno de 30% do PIB. Não houve nada parecido nas últimas seis décadas, informa a calculadora dos economistas do Bradesco. A média foi de 20% no período.
Essa vitalidade tem origem na capacidade demonstrada pelas empresas do agronegócio em driblar a queda nos preços mundiais das commodities agroindustriais com aumento no volume de vendas.
Contribuíram, também, particularidades setoriais como safra recorde de grãos, enquanto concorrentes como a Argentina amargam prejuízos com as mudanças climáticas. E, ainda, um crescimento constante da produtividade no campo, em três safras anuais.
O resultado foi um crescimento exponencial (60%) no valor das exportações do agronegócio no espaço de 36 meses. Passou de 100 bilhões para 160 bilhões de dólares entre 2020 e 2022.
O acúmulo de superávits no comércio internacional tem reflexos saudáveis. No mundo ideal, ajuda a iniciar um círculo virtuoso quando ocorre num cenário doméstico de credibilidade, previsibilidade e estabilidade econômica.
Isso ainda não aconteceu na vida real, ou seja, não saiu da lista de promessas feitas por Lula na campanha do ano passado. É mera possibilidade, por enquanto.
Há chance razoável, se considerado o otimismo das avaliações políticas e empresariais sobre o plano econômico esboçado por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, com as contribuições de Simone Tebet (Planejamento) e do vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio).
Para o PT, contudo, Haddad, Tebet e Alckmin são fatores divisionistas na prancheta de um projeto de poder. Daí a opção preferencial pela marca “Efeito Lula”.
Na cúpula do partido, justifica-se: ela impõe convergência dos petistas ao silêncio sobre a renovação de lideranças, incluindo atores e coautores de um eventual êxito no resgate da economia.
Ajuda a manter interditado o debate sobre o futuro sem Lula e sobre todos os potenciais candidatos à sucessão em 2026 — além do trio da economia, há outros perfilando-se, como é o caso de Flávio Dino, ministro da Justiça.
Isso, claro, na hipótese de o eterno líder, por qualquer razão, achar inconveniente completar 37 anos no ofício de candidato único e permanente à Presidência da República.