Resignação de Bolsonaro é parte do marketing eleitoral do PL
Jair e Michelle Bolsonaro já estão em campanha, com papéis distintos no projeto do partido de Valdemar Costa Neto para as eleições municipais do ano que vem
Jair Bolsonaro escolheu a reunião estadual do PL22/RS, em Porto Alegre, nesta quinta-feira, 22, para comentar a primeira etapa do seu julgamento por abuso de poder durante a campanha de 2022, quando disputou e perdeu a reeleição como o candidato 22 — número de urna do Partido Liberal.
Bolsonaro considera “página virada” a derrota eleitoral, a negação, a raiva, a negociação e a depressão que alternou em público nas últimas 31 semanas.
Passou à aceitação: “É quase uma unanimidade que vou perder, essa é uma verdade”, disse à CNN.
Resignação é desespero crônico, definiu Henry David Thoreau, escritor americano, autor de um clássico da literatura política (A desobediência civil, 1849) que influenciou gerações de ativistas.
No caso de Bolsonaro, a resignação que transparece dosada por lamento é estudada e faz parte do marketing do Partido Liberal para a campanha eleitoral do ano que vem, desenhado em Brasília por ele e por Valdemar Costa Neto, o dono do PL.
Prevê-se que a partir de hoje ele anime as reuniões do partido para organização das campanhas municipais de 2024, a bordo do figurino de vítima de perseguição “do sistema”, do provável banido das disputas e com direitos políticos cassados por oito anos, sempre lembrando nos discursos que pode acabar preso por decisão judicial num dos 16 processos que enfrenta. “É o que pretendem fazer comigo”, repetiu durante a semana.
É provável que deixe Porto Alegre no sábado para outra reunião do PL em Ji-Paraná, no centro de Rondônia, numa viagem de três mil quilômetros.
Na capital gaúcha ele perdeu a eleição mantendo a fidelidade de 46,5% dos votos no segundo turno.
Na cidade mais rica de Rondônia foi apoiado por 75,5% dos eleitores. Lá estará Michelle Bolsonaro, enviada por Costa Neto para empossar a deputada federal Silvia Cristina no comando do núcleo feminino estadual do PL.
O casal Bolsonaro está em campanha, com papéis distintos no marketing eleitoral do partido de Costa Neto. Ela será a ex-primeira-dama que apresentará um programa político em redes sociais — “Mulheres que fazem acontecer” é o título provisório. Ele será o ex-presidente da extrema-direita, um influente líder de aparência resignada, mas que exala revolta por onde passa.