“Tendemos a valorizar mais o presente que o futuro. É a dificuldade tão humana de evitar consumir hoje em prol da poupança que facilitará o amanhã. Enquanto eleitores, não somos muito diferentes: nosso bem-estar imediato costuma ter mais peso em nossa decisão de voto do que a avaliação dos efeitos acumulados de uma política pública ao longo do tempo. Se o presente nos parece satisfatório ou menos ruim, será maior nossa disposição a aprovar os atuais governantes. Políticos sabem disso e padecem de tentações envolvendo a política fiscal: as consequências presentes de suas escolhas tendem a ganhar mais importância do que as futuras, quando eles, quem sabe, serão meras fotos numa galeria. Frequentemente, do ponto de vista do governo, o equilíbrio fiscal perde valor se não conduz à reeleição. A miopia de eleitores e políticos está por trás da tendência aos déficits fiscais crônicos. Exemplo recente: a ‘PEC Kamikaze’, distribuindo dezenas de bilhões às vésperas das eleições.”
(José Serra, ex-governador, senador por São Paulo e candidato a deputado federal pelo PSDB.)