“Se esse ciclo de violência, invasões e mortes não for estancado imediatamente, o que se pode prever é o desaparecimento de índios isolados que estão à mercê de invasores, escudados apenas em seus elementares meios de defesa. Os Korubo não têm arco e flecha, lutam corpo a corpo. Se não se reverterem essas ações contra os povos indígenas a tendência é o desaparecimento. Quando a Polícia Federal anuncia os assassinos e diz que não há mandantes, admito que até possa não haver mandantes, mas o anúncio é precipitado. Não houve conclusão de inquérito [sobre o assassinato do indigenista bruno pereira e do jornalista Dom Philips]. Não é atitude própria das polícias. Nos aspectos operacionais, a Polícia Federal até trabalhou bem. Mas foi orientada pelos indígenas. O trabalho da polícia se deve ao conhecimento dos indígenas que começaram as buscas imediatamente quando foram avisados sobre o desaparecimento de Bruno e Dom. Isso não foi dito no encontro que a PF e outros órgãos públicos promoveram em Manaus. Poderiam ter feito referência à Univaja, que colocou tudo na mão dos policiais. E não fizeram nenhuma referência. Não disseram ao menos ‘obrigado’. Essa foi uma demonstração de desprezo e arrogância. Foi marcante. São três anos da morte de Maxciel [Pereira dos Santos, indigenista], fuzilado no meio da rua em Tabatinga [na fronteira com a Colômbia]. E o que aconteceu? Nada. Os bandidos se sentem protegidos permanentemente pelo presidente da República quando ele diz que a cavalaria americana foi muito eficiente por matar os índios, e o Brasil não. Essa é uma declaração de quase guerra contra os povos indígenas, um comportamento genocida.”
(Sydney Possuelo, sertanista por 42 anos na Funai, presidente do órgão entre 1991 e 1993, a Cristina Ávila e Katia Brasil, do portal Amazonia Real. Em março, ele devolveu ao governo federal a medalha e diploma de Mérito Indigenista que recebera do Ministério do Interior em 1987, como resposta à concessão da mesma honraria a Jair Bolsonaro.)