O racismo nas relações do consumo no nosso país alcançou as raias do absurdo. Das distinções e preferências no atendimento às canseiras em espaços de luxo e prestígio, os clientes e consumidores negros têm que percorrer uma via-sacra para serem tratados com respeito e dignidade como manda a lei e determina a ética. Isso quando não são recolhidos nos nefastos “quartos da segurança” para serem interrogados, revistados. Isso quando não agredidos psicologicamente e fisicamente, isso quando não são violentamente agredidos, feridos e mesmo mortos no interior desses estabelecimentos.
Além dos olhares de dúvidas e descrenças de sua capacidade de consumo dispensados pelos vendedores dos diversos estabelecimentos, são intensas as hostilizações proporcionadas pelos seguranças e vigilantes desses ambientes. Com olhares de desconfiança e atitude de alerta, eles seguem e perseguem esses consumidores de forma constrangedora. São inúmeras as vezes em que os negros são obrigados a se submeterem a revistas humilhantes, obrigados apresentarem a nota fiscal, obrigados a abrirem suas bolsas e sacolas para comprovarem que não furtaram e nem se apoderaram indevidamente de bens e produtos nos supermercados e lojas.
É necessário dessa maneira denunciar essa ação constrangedora, vexaminosa e ilegal, responsabilizando e punindo exemplarmente os autores, os cúmplices e todos aqueles que, tendo dever legal de prevenir e combater essas injustificáveis ações criminosas, omitem-se diante desses delitos monstruosos que agridem e violentam a lei, o direito do consumidor e a dignidade da pessoa humana.
Se é verdade que são muitos aqueles que agem de forma preordenada e com objetivo de promover a agressão racial, é verdade também que muitos agem motivados e embebidos pelo racismo estrutural e, de forma, involuntária, terminam por realizarem as mais diversas atitudes e condutas que machucam e ferem pessoas. Por isso, é preciso cada vez mais conscientizar e educar.
Esse foi o espírito e o conceito da construção da Bolsa Antirracista pela nossa querida Universidade Zumbi dos Palmares em parceria com a agência de publicidade Grey. Um equipamento potente e inovador de defesa e também de ataque que alerta os sentidos, informa os direitos, convoca a mudança de atitude, denuncia a omissão e pune os agressores e as agressões raciais nos ambientes de consumo contra os negros brasileiros.
A iniciativa foi premiada recentemente com o Leão de Prata em Cannes. Nosso desejo e objetivo é que ela possa auxiliar na conscientização e educação de todos os atores do mercado de consumo, melhorar a qualidade da relação humana e, sobretudo, garantir que a experiência de compra do negro brasileiro seja prazerosa, livre de constrangimento, segura e respeitosa. Paris já abraçou essa ideia, agora vamos disponibilizá-la ao povo brasileiro.