Claudine Gay, um símbolo que nos desafia
Se os símbolos são o prenúncio alvissareiro do novo que está por vir, que venha logo em solo brasileiro e ajude realizar as transformações necessárias
Com a designação de Claudine Gay como a nova presidente da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mais um símbolo importante das mudanças se estabelece para todos aqueles que tem acompanhado com atenção as profundas transformações em curso nos ambientes políticos culturais e sociais em várias sociedades partes do mundo, em busca da efetivação assertiva da paridade em relação à diversidade, pluralidade e sobretudo inclusão racial.
Nos seus 368 anos de atividade somente uma vez Harvard havia sido presidida por uma mulher, mas nunca por uma mulher negra. Claudine Gay já havia chamado atenção quando em 2006 ingressou como professora e, principalmente, quando, em 2018, se tornou reitora da faculdade de artes e ciência da mundialmente renomada e prestigiosa instituição acadêmica americana. Filha de imigrantes haitianos sua assunção remete à justiça daqueles que lutam pelos seus ideais e que fazem da educação seu instrumento mais vigoroso dessa luta, mas também por um ambiente que valoriza o talento, fortalece a equidade e principalmente tem a coragem de mudar a natureza artificial das coisas e promover a oportunidade e a justiça social para todos independentemente de cor e raça.
Curiosamente, isso tem ocorrido com mais frequência e efetividade nos países em que os negros são minorias. Como por exemplo, no Reino Unido, onde os negros representam apenas 15% dos britânicos. Ali, no final de 2022, a ex primeira ministra Liz Truss de forma inédita e impactante nomeou negros para os cargos de ministro das relações exteriores e também da economia. Símbolos forte que pretendiam anunciar o novo tempo e a inexorabilidade de prestigiar e incluir minorias para promover um equilíbrio mais adequado do discurso democrático isonômico e a realidade monopolista e excludente.
No caso de Gay, juntamente com a nomeação de Katanje Brow para a Suprema Corte, Karine Jean-Pierre para porta voz da casa branca, Linda Thomas Greenfield como embaixadora da ONU e o general Lloyd Austin como Secretário de Defesa, os Estados Unidos novamente fazem a diferença, troca o discurso pelas práticas e desafia os demais países a fazerem sua lição de casa e incluírem, homens e mulheres negros nos mais elevados cargos de prestigio e de poder, como manifestação de correção e justiça.
No Brasil, em que os negros são a maioria dos brasileiros, os debates e ações para alçarem e garantirem a presença dos negros nos postos de prestígios ainda engatinham nas reitorias das universidades públicas e privadas, sequer existem na direção das grandes empresas e principalmente, é tabu na magistratura e nos tribunais superiores. No mais das vezes quando se apresentam são combatidas e mesmo desqualificadas sob os mais diversos argumentos que no fundo apontam para o surrado racismo institucional e discriminação racial. Foi o caso do professor negro Carlos Alberto Decotteli da Silva, eminente professor na pós graduação da Fundação Getúlio Vargas, que foi dizimado pela própria instituição como não portador das competências e conhecimentos para o cargo, e agora, a festejada e competente cantora Margarete Menezes que tentam sangrá-la em praça pública em decorrência de querela administrativa que assolam a maioria daqueles que recorrem aos programas do Ministério da Cultura e do poder público.
Se os símbolos são o prenúncio alvissareiro do novo que está por vir, que venha logo em solo brasileiro e ajude realizar as transformações que estão promovendo nos mais diversos lugares do mundo a valorização e reconhecimento dos talentos e a inclusão e oportunização daqueles que sempre foram colocados e mantidos do lado de fora. Viva Gay, viva o talento negro em qualquer parte do mundo.