No Brasil do racismo estruturado e dos racistas empedernidos, os negros nunca estão a salvos e seguros, sejam nos cargos simples ou nos postos prestigiados de primeira linha. Por isso, diferentemente dos demais colegas brancos, de maneira agressiva, autoritária e intolerante, os negros têm sido julgados, condenados e expelidos dos cargos públicos de forma sumária e hostil, sem que sejam considerados seus argumentos, seu direito de defesa, sem que seja respeitado o devido processo legal. E, pior: em regra, por questões de varejo que jamais incomodaram ou colocaram em cheque a reputação ou os cargos dos ministros brancos.
Na terra do Mensalão e da Lava-Jato, na qual não figurou um negro sequer entre os denunciados e punidos, o ministro negro do esporte Orlando Silva foi denunciado pela compra de uma tapioca com cartão corporativo. Depois, acabou sendo desligado do governo por acusações contra a pasta que ele comprovou serem inverídicas. A ministra negra da igualdade racial Matilde Ribeiro foi sumariamente demitida porque utilizou indevidamente cartão corporativo e a ministra negra Benedita da Silva foi demitida porque usou uma passagem oficial para atividade oficial na Argentina. Sem esquecer Celso Pitta, prefeito negro de São Paulo, vitimado por três pedidos de impeachments por acusações nunca comprovadas.
O DIREITO À PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
O caso do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida parece caminhar na mesma direção. Uma das figuras festejadas do governo Lula e um dos negros mais bem qualificados técnica e academicamente, doutor e pós-doutor formado pela USP, e jovem quadro político em ascensão, está sendo fritado em praça pública sem que o governo o proteja, o preserve e o defenda, garantindo assim tratamento isonômico em relação aos ministros brancos que também tiverem deslizes ou atitudes contestadas.
A nota do governo que afirma reconhecer a gravidade das denúncias, e que diz que está tratando caso com rigor e velocidade por não coadunar com possíveis violências contra as mulheres, não diz da mesma forma que primeiramente vai garantir a presunção de inocência e o direito de defesa garantido a todo cidadão pela Constituição, por não coadunar com a injustiça. Nem releva a possibilidade de o ministro estar sendo vítima de um assassinato de reputação pelos mais diversos interesses.
Pelo contrário, subliminarmente, a nota já antecipou em letras garrafais que já tem um lado e que já tem um veredito. Somado ao silêncio dos bons, inclusive do presidente, e o sangramento solitário em praça publica, resta aguardar o dia e hora que a guilhotina chegará. Mais até que as denúncias sejam comprovadas, por questão de isonomia e justiça, é exigível que o ministro negro Silvio Almeida seja protegido e defendido de forma isenta e firme pelo governo do presidente Lula, assim como sempre se fez e se faz com seus ministros brancos. Fora disso, será tratamento com dois pesos e duas medidas que novamente fortalecerão o preconceito e a discriminação racial que tão intensamente tem campeado o tratamento dos negros e brancos nas hostes políticas governamentais.