Não é incomum encontrar mulheres que usam com frequência as escovas desembaraçadoras de cabelo. O problema é que isso pode provocar um tipo específico de queda capilar, nomeado recentemente em um estudo internacional.
A queda capilar pode ter várias causas, mas é geralmente incomum que ocorra entre mulheres na faixa dos 20 a 30 anos. Mais raro ainda quando se trata de uma queda de cabelo difusa e significativa. É o que pode ocorrer com esse procedimento para desembaraçar os fios.
O estudo recente, publicado no JAMA Dermatology, mostrou que as escovas desembaraçadoras estão por trás de um quadro que ficou conhecido como tricomalácia difusa adquirida. Nessa condição, a paciente perde cabelo e alguns fios ficam danificados e distorcidos.
As escovas têm cerdas flexíveis de vários comprimentos e pontas arredondadas para controlar os cabelos rebeldes sem força excessiva nas hastes capilares. Mas os cientistas, baseados em Cingapura, observaram que utilizá-las com regularidade, por seis meses ou mais, pode ser perigoso.
A tração do uso regular de uma escova de cabelo desembaraçadora leva a tensões únicas nas hastes e folículos capilares, resultando em transmissão desigual de forças mecânicas através das hastes capilares, distorção do folículo piloso (de onde sai o fio), interferência com a deposição de queratina, entre outros processos que prejudicam a qualidade e a quantidade dos cabelos.
Nos casos relatados pelo trabalho, o exame tricoscópico revelou a presença de pelos em saca-rolhas, uma condição em que o fio é puxado, tem quebra na base e enrola perto do couro cabeludo.
Os danos ao cabelo nesse tipo de alopecia são vistos mesmo após a mulher cessar o uso desse tipo de escova. Os folículos pilosos distorcidos e cabelos em saca-rolhas ainda eram vistos 12 meses depois. Ou seja, há um dano duradouro.
No geral, a característica de fios em saca-rolhas da tricomalácia é associada tanto à tricotilomania, calvície irregular geralmente devido a um desejo compulsivo de puxar o cabelo, quanto à alopecia aguda por tração, provocada pelo uso constante de tranças, coques e até megahair.
No entanto, os pesquisadores, ao examinarem as pacientes, eliminaram a possibilidade de ambos os diagnósticos. Por isso, eles nomearam esse novo tipo de alopecia.
Como todo o couro cabeludo foi exposto ao uso da escova, os defeitos relatados foram difusos. E, como a queda demorou para se resolver, mesmo depois de parar de usar as escovas de desembaraçar, os pesquisadores sugerem que as tensões de tração são insuficientes para redefinir o ciclo do cabelo.
Em outras palavras, os fios que estavam na fase de crescimento permaneceram assim mesmo produzindo uma haste capilar enrolada e distorcida que se quebra facilmente.
O manejo dessa condição pode depender da interrupção do uso da escova desembaraçante. No entanto, a persistência dos defeitos da haste do cabelo em 12 meses de acompanhamento, apesar da interrupção do procedimento, sugere que o problema adquirido só pode se resolver após a passagem de um ciclo capilar completo.
Em todo caso, cabe registrar o alerta e sugerir que o melhor a fazer ao notar perda de cabelo e danos aos fios é procurar um médico dermatologista.
* Lilian Brasileiro é dermatologista, especialista em tratamentos capilares e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)