As enchentes do Rio Grande do Sul têm causado sérios problemas de saúde pública, incluindo o surgimento e agravamento de várias doenças. Entre as mais preocupantes, está a leptospirose, que resultou em 242 casos confirmados e 15 mortes no estado até o momento. É uma doença infecciosa, transmitida pela água contaminada por urina de ratos infectados e pode ser grave. Há exames específicos para realização do diagnóstico, mas, neste momento de emergência, é fundamental considerar o histórico epidemiológico e a exposição do paciente para suspeita da infecção.
Mesmo após as águas baixarem, é preciso estar atento sobretudo à lama, que tem alto poder infectante uma vez que adere a móveis, paredes e chão das casas. Conforme o mais recente relatório do Ministério da Saúde sobre a leptospirose no Brasil, 44% dos casos confirmados estão relacionados à infecção por água ou lama de inundação. Trata-se de uma bactéria (leptospira spp), que sobrevive por até 180 dias (cerca de seis meses) no ambiente.
O método laboratorial para diagnóstico específico é através da coleta de sangue no qual se verifica se há presença da bactéria. Ainda não há vacina disponível para a doença e o tratamento da leptospirose baseia-se na antibioticoterapia.
Contudo, outras doenças também requerem atenção, como dengue, influenza (vírus causador da gripe), diarreia infecciosa, escabiose (sarna), pediculose (piolho) e zoonoses, como a raiva. É fundamental destacar a necessidade de medidas preventivas e de controle de doenças infecciosas, bem como chamar a atenção para a importância da vacinação e da vigilância constante durante esse período crítico na região.
As doenças infecciosas endêmicas, como dengue e a gripe, têm apresentado números elevados de casos em todo o país e não devem deixar de estar nesse rol. Estamos no período de vacinação contra a influenza. Além disso, é importante estar atento às doenças respiratórias, como a gripe e covid-19, cujas incidências podem aumentar devido à aglomeração nos abrigos. É crucial não negligenciar a proteção contra outras doenças, incluindo a hepatite A, e a vacinação é essencial neste contexto.
Durante as enchentes, os casos de doenças transmitidas por vetores tendem a aumentar, já que o mosquito Aedes aegypti se reproduz em água parada, situação comum quando os níveis de água de enchentes começam a diminuir. Após o período de chuvas, é vital eliminar os criadouros de mosquitos para evitar a proliferação da dengue e adotar o uso de repelentes.
A aglomeração em abrigos também pode elevar a incidência de escabiose (sarna) e pediculose (piolho). Medidas preventivas são essenciais, tanto agora quanto nos próximos meses. É importante garantir o acesso à água potável, ao saneamento básico, à vigilância sanitária, ao controle de vetores e intensificar as recomendações de higiene pessoal. O tratamento adequado das doenças infecciosas também é extremamente necessário para reduzir o risco de transmissão.
A saúde pública deve ser prioridade nesse cenário, com ações coordenadas para prevenir e controlar as enfermidades mais comuns em situações de emergência. A vacinação, a eliminação de criadouros de mosquitos e a manutenção de condições sanitárias adequadas são medidas indispensáveis para proteger a população e evitar a disseminação de doenças.
*Andre Mario Doi é médico patologista clínico e diretor científico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)