Por que os negros são mais vulneráveis ao câncer de próstata
A recomendação é que afrodescendentes iniciem seus exames urológicos a partir dos 40 anos de idade
Levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base na Pnad Contínua 2020/2021, revela que a população brasileira com mais de 60 anos de idade aumentou quase 40% entre 2012 e 2021. Também ganhou destaque a estratificação por raça. Entre os brasileiros que se autodeclaram pretos, os dados apontam um aumento de 9,1% em 2021 (em 2012 a taxa era de 7,4%), um crescimento de 32,4% entre 2012 e 2021.
Ao relacionar estes dados com a saúde geral da população, temos, pelo menos, dois aspectos importantes a considerar. Primeiro, a tendência de envelhecimento na população mundial e, especificamente, brasileira. No período, a faixa etária acima dos 60 subiu de 11,3% para 14,7% e, conforme análise do IBGE, o envelhecimento da população brasileira é irreversível; em seguida, a porcentagem de homens negros no Brasil, que representa 49,2% da população.
Além dos dados que dispomos no Brasil, assim como pesquisas de órgãos de saúde e sociedades médicas dos Estados Unidos e de diversos países europeus, sabemos que há maior prevalência de fatores de risco para diversos tipos de câncer e de outras doenças em homens negros. O que requer também maior acesso para a realização de exames para diagnóstico precoce. Especificamente para o câncer de próstata, a recomendação é que afrodescendentes iniciem seus exames urológicos a partir dos 40 anos de idade.
Existem alguns fatores para a incidência maior de câncer (e câncer de próstata) na comunidade negra (e afrodescendente), com pontuação de risco genético para câncer duas vezes maior do que naqueles com ancestralidade europeia. Vale ressaltar que ainda não é muito bem definida a relação na literatura médica, mas suspeita-se que o câncer de próstata tenha maior incidência e/ou seja mais frequente em homens negros e/ou afrodescendentes.
Outro aspecto importante é o conhecimento que a população tem sobre incidência, mortalidade, sobrevida, rastreamento e fatores de risco. Algumas pesquisas já revelaram que 86% dos brasileiros desconhece que a incidência de câncer de próstata em homens negros é maior. Em países da América Latina (Argentina, México e Colômbia) esse número salta para 93%.
A população negra em geral também é menos representada em ensaios clínicos, o que reduz avanços nos tratamentos para este grupo. Para o câncer de próstata, apenas 4,4 % dos participantes em ensaios clínicos são negros, ainda que a doença seja 76% mais incidente em homens afrodescendentes.