A forte queda ocorrida nas ações da Petrobras nesta sexta-feira, 12, – que contribuiu para que o índice Bovespa despencasse quase 2% – foi a resposta óbvia do mercado à intervenção do presidente Jair Bolsonaro na empresa, determinando a suspensão do reajuste de 5,7% no preço do diesel, que havia sido anunciada ontem pela empresa.
O presidente poderia ter feito isso de forma discreta, deixando à Petrobras a missão de arranjar uma desculpa para o recuo. Curiosamente, foi isso que a empresa fez esta noite. Informou que a revisão de seu sistema de hedge permitiu esperar um pouco mais para ajustar o preço à realidade dos mercados internacionais, após avaliar a decisão presidencial.
Em vez disso, Bolsonaro fez questão de tornar público que o recuo havia sido determinado por sua própria e exclusiva decisão. Posou de benfeitor dos caminhoneiros e provavelmente espera ganhar algum grau de popularidade com a medida.
É provável que o ambiente de pré-greve dos caminhoneiros recomendasse um cuidado maior no prosseguimento da política de preços da empresa. A Petrobras não pode dissociar-se de sua condição de empresa estatal nem dos riscos, para o governo, de uma decisão que estimule uma nova greve. Como se recorda, eles perpetraram uma paralisação de sérias consequências para a economia e para o direito de ir e vir dos brasileiros, inclusive para abastecer suas dispensas, ir ao médico e à escola, divertir-se e assim por diante.
A decisão de Bolsonaro evidencia seu instinto intervencionista. Nisso, ele não difere de Dilma Rousseff, que acarretou grandes perdas para empresa ao controlar seus preços.
Claro, a intervenção do PT na Petrobras incluiu também sua entrega a partidos políticos para usar o mundo de obras da empresa com o objetivo de extrair grande volume de recursos para financiar campanhas eleitorais e a encher os bolsos de seus líderes.
Bolsonaro dificilmente chegará a tanto, mas sua ordem para rever o preço do diesel tem efeito muito semelhante ao que decorreu da intervenção da ex-presidente na empresa.
Trata-se, pois, da primeira rachadura no edifício liberal que o presidente teria concordado em construir e manter por proposta de seu ministro da Economia.
Resta saber se esse foi um caso pontual ou se o presidente, percebendo o poder de que é detentor, vai aventurar-se em novas intervenções nas empresas estatais e, talvez, em pontos popularmente sensíveis da política econômica. As consequências seriam desastrosas.