PSDB sem rumos se contradiz (uma vez mais)
Ao não aceitar que Bonifácio de Andrada seja o relator da denúncia contra Temer, o partido mostra que não tem rumo nem estratégia
O PSDB, vira e mexe, se enreda em suas próprias contradições. O drama agora é se aceita ou não que um de seus filiados, o deputado federal Bonifácio de Andrada (MG), seja o relator do processo em que o STF pede autorização para processar o presidente Michel Temer com base em denúncia do ex-procurador da República, Rodrigo Janot.
O líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), pediu a Bonifácio que renunciasse à indicação, o que não foi aceito. Ele também rejeita licenciar-se do partido. A Tripoli restaria substitui-lo como representante do PSDB na Comissão de Constituição e Justiça, o que significaria clara retaliação e ato provavelmente inédito na história da Comissão.
Parece pirraça, mas não é. Tudo indica que Tripoli teme os efeitos, nas próximas eleições, de um parecer pela rejeição do pedido do Supremo, que se afigura praticamente certo. Isso porque Bonifácio votou no mesmo sentido na denúncia anterior e já insinuou que essa será sua decisão.
Tripoli imagina, ao que parece, que a contribuição de um filiado para a absolvição de Temer na Câmara possa respingar na imagem do PSDB e no seu desempenho eleitoral em 2018. Apoiar o mais impopular presidente dos últimos tempos resultaria em perdas nas próximas eleições.
Aos olhos de um observador estrangeiro, é estranha a atitude do PSDB. O partido integra a base parlamentar de Temer. Tem quatro ministros no governo. Apoiou quase todas suas iniciativas, incluindo uma medida rejeitada por membro influente, como foi o caso da oposição do senador José Serra (SP) à medida provisória que criou a Taxa de Juros de Longo Prazo (TLP).
Para um observador brasileiro mais atento aos acontecimentos políticos, também é difícil decifrar os motivos da resistência de Tripoli à indicação de Bonifácio. Como se sabe, a indicação é prerrogativa do presidente da Comissão, particularidade que o líder do PSDB deveria conhecer.
O mesmo observador achará a situação confusa quando verificar que o PSDB não tem como se desvincular da impopularidade de Temer. Afinal, integrou as articulações políticas para aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff e foi companheiro de primeira hora na formação do atual ministério, para o qual forneceu membros qualificados de seus quadros parlamentares.
Para o dito observador, Tripoli poderia ter-se incomodado com a indicação de Bonifácio se o PSDB estivesse na oposição. Chegou-se a discutir a hipótese, mas hoje ela é questão vencida, segundo líderes do porte do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Em outras palavras, o PSDB desistiu de desistir de fazer parte do governo Temer. Até porque o eleitorado mais consciente poderia interpretar a decisão como movida exclusivamente por oportunismo político.
Assim, o mesmo observador somente poderia ter uma conclusão: O PSDB se tornou um partido sem rumos e sem liderança clara e insofismável. Custa a crer que possa correr o risco de desperdiçar, por questões pouco relevantes e por contradições internas, suas efetivas chances de voltar a eleger o presidente da República. É também um sinal de falta de estratégia.