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Maílson da Nóbrega

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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

Uma ideia ruim para o Brasil

Transações do bloco Brics em moeda local não nos interessam

Por Maílson da Nóbrega 16 ago 2025, 08h00

Na reunião de Kazan (Rússia) em outubro de 2024, o Brics anunciou o propósito de usar moedas locais em transações financeiras entre si e com seus parceiros comerciais. No encontro de julho deste ano, no Rio de Janeiro, a ideia surgiu novamente. Em mensagem na sua rede Truth Social, Trump prometeu impor tarifas de 100% aos países do Brics que adotassem alternativa ao dólar.

Mecanismo semelhante existe na América Latina desde 1982, através do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR). O acordo, operacionalizado pelos bancos centrais dos países participantes, prevê compensações quadrimestrais. Os saldos credores e devedores são liquidados em dólares nos meses de abril, agosto e dezembro. O Brasil abandonou o CCR em 2019, provavelmente porque havia quem não cumprisse a regra.

O presidente Lula tornou-se entusiasta da ideia. Recentemente, afirmou: “Toda noite me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar. Por que não podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda?”. Na reunião do Brics, foi o único chefe de Estado a se pronunciar enfaticamente sobre o assunto. Para a revista britânica The Economist, a razão pela qual Trump impôs a tarifa de 50% contra o Brasil teria sido as discussões do grupo.

“O exportador que hoje recebe em dólar pode preferir não fazer negócios em moedas de países não confiáveis”

O dólar está longe de perder sua hegemonia. Desde o século XIX, o domínio de uma moeda nas transações internacionais é detido por uma potência econômica, cujas vantagens são, entre outras, instituições fortes, mercados financeiros profundos e estabilidade das regras do jogo. Daí derivam as qualidades para que sua moeda se torne padrão em negócios financeiros e comerciais, a saber, credibilidade e liquidez, o que assegura a fácil repatriação de recursos, a baixos custos.

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A China pode se tornar a maior economia do mundo nos próximos anos, mas isso não a credenciará a oferecer uma moeda tão segura e líquida como o dólar. Seu sistema autoritário, que inclui o controle da conta de capitais, gera incertezas. Há o risco de proibição repentina de remessas para o exterior. Quanto ao dólar, estudo do Federal Reserve (2023) indicou que o seu domínio se manteve estável nos últimos vinte anos. Tudo indica que essa vantagem vai se manter por muito tempo.

Transações em moeda local com países do Brics seriam desvantajosas para o Brasil. Provavelmente, não haveria compensações quadrimestrais em dólares, como no CCR. A Rússia não poderia aderir nesses termos, pois há sanções que a impedem de transacionar na moeda americana. Vejamos o caso do Irã, um dos seus membros, cuja balança comercial nos é favorável. Hoje, o exportador recebe em dólar, mas passaria a ter que aceitar o rial, que não é uma moeda conversível. Preferiria, por isso, não fazer negócios com o Irã, o que reduziria as exportações e o crescimento da economia. Haveria outras situações semelhantes. Lula precisa reconhecer e entender essa realidade.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

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